A mulher escolhida

Antes um argueiro, antes uma trave no olho, do que uma ideia fixa. E a dele era que os céus mandariam um sinal para identificar a mulher com quem haveria de se casar. Não foi assim com a Rebeca, a mulher do Isaque? Aquela donzela que desse de beber a um servo e aos seus camelos antes de a si própria, esta seria a mulher escolhida para Isaque. Não era coisa fácil de acontecer e nisso todos reconheceram que só podia ser um sinal divino. Pois era exatamente assim que ele pretendia escolher a sua esposa: iria pedir como sinal alguma coisa bem difícil de acontecer e, quando acontecesse, era só pedir a mão da moça e partir para o abraço.

Pensou então no sinal que iria pedir. Sem dúvida era bastante improvável que uma donzela no Brasil desse de beber a um servo e aos seus camelos, mesmo depois que ela própria tivesse bebido. Tão improvável que decidiu pensar em alguma coisa um pouco mais fácil de acontecer. Uma vez ele leu sobre um sujeito que fez a mesma coisa: tinha uma mulher em mente e disse que a tomaria como esposa se, na próxima vez que se encontrassem, ela lhe oferecesse um pudim de coco. A mulher não tinha como hábito oferecer pudim de cocos, simplesmente porque nunca havia feito um. Pois no dia em que se encontraram ela fez, ofereceu a ele e os dois se casaram. Simples assim.

Também ele tinha em mente uma moça. Conhecia só de vista, da turma do cursinho. Refletiu que era bastante difícil que ela viesse lhe pedir desculpas por alguma coisa e escolheu isso como sinal. Resistiu à tentação de ficar próximo a ela esperando por uma trombada. Precisava ser um pedido de desculpas natural – embora sobrenatural. Só que não aconteceu absolutamente nada. A moça mal olhou para ele naquele dia. Talvez fosse um sinal difícil demais e os céus precisavam de mais tempo. Na dúvida, decidiu arriscar tudo e puxar conversa com a moça. No auge da coragem, pediu para sair com ela. E a moça, percebendo suas intenções:

-Não vai dar. Eu tenho namorado. Desculpa.

milkau
Enviado por milkau em 03/02/2014
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