Um sábado qualquer

O balanço do ônibus não me permitia tirar uma única pestana. Mas e daí? Um copo de café resolveria mais tarde. Pelo menos foi o que achei.

Quando subimos a terrível ladeira, passamos pela mata e pelo pouco comércio, enfim, chegamos ao meu local de desembarque, um lugar quase deserto no início da manhã.

Eu dava aulas, por isso, resolvi terminar algumas lições enquanto esperava o horário de abrir. Saquei então a pasta de dentro de minha humilde bolsa branca de pano amarelado - apesar de bonitinha.

Logo, a secretária chegou em sua moto e abriu as portas. Vendo isso, atravessei a deserta rua, ao passo que minha amiga, também professora, Tina chegava às portas. Parou para arrumar a bolsa.

Eu não resisti e, rapidamente, fui dar-lhe um "bom dia" como de costume... gritando por trás!

- Oi, Tina!

Porém, no momento da travessura, o inesperado: não vi que Tina segurava um copo de café com leite na mão. Foi um show! O copo saiu voando e lá se foi o líquido quente sobre minha bolsa e camiseta, e a dela também! A primeira reação foi calcular o "preju", depois rir um bocado um do outro!

- Ê, Polô! Mas tinha que ser você! - disse Tina, procurando não perder totalmente o fôlego com o ataque de risos.

Mais tarde, as aulas começaram. Isso às oito da "matina". Lembrei Tina de que iríamos almoçar fora juntos hoje, o que foi motivo de mais risadas, principalmente para sua primeira turma, que já me conhecia de outros carnavais!

- Adivinhem com quem eu vou almoçar hoje? - perguntou inocentemente durante a atividade de preparo de escrita.

- Ah, meu Deus! O povo lá fora que se cuide!

E daí por diante, iniciaram-se os comentários cômicos:

- No mínino vocês vão cair na rua!

- Vão trazer marmita? Não, porque se trouxerem, nossa... Vai cair no chão!

- Teacher, tá chovendo! Já imaginou que vocês podem ser atropelados!

E assim seguiu-se a aula! Enquanto isso, eu sem querer me distraía com algum detalhe da aula e os alunos estranhavam.

Chegou a hora do almoço. Tina e eu nos preparamos para sair. Procurei meu guarda-chuva dentro da mochila, enquanto Tina terminava de guardar os livros.

Saímos à rua já percebendo os pingos que caíam. Abri minha proteção e Tina rapidamente se enfiou debaixo e ficamos lá grudados, pelo menos até o momento em que percebi que a chuva tinha parado antes mesmo de sairmos da escola. Que incrível! Mais distraídos do que isso...

Fomos rindo até o restaurante depois da esquina. Ela me contava sobre os comentários dos alunos em aula. Não poderia rir mais com outra pessoa.

A caminho do restaurante, há uma rua um pouco íngrime, e foi lá que proclamei:

- Já imaginou se de repente um de nós escorrega na rua? - falei rindo.

O resultado foi imediato. Pisei em falso na calçada e escorreguei quase que para o meio da rua, se Tina não tivesse me segurado. As risadas só aumentaram.

- Ainda bem que nenhum aluno viu isso! - falei olhando para todos os lados.

Como consequência, lá estava, do outro lado da rua, minha aluna de sexta-feira olhando pra mim com sorriso estampado. Acenei pra ela como se nada tivesse acontecido! Mas, por favor, todo mundo na cidade viu! Não há como negar!

- Mas será possível! Nem disso o destino me livra!

Já no restaurante, pegamos os pratos e os talheres e nos servimos. Eu coloquei já dentro da marmitex de alumínio para facilitar.

- Ué, você vai levar? A gente não ia comer aqui? - disse Tina.

Pensei um pouco e realmente ela tinha razão. O quão distraído dá pra ser?

O garçom fingiu que não reparou a situação embaraçosa.

Conversamos bastante durante o almoço, enquanto eu enchia minha comida de ketchup pensando ser molho de pimenta.

E assim, prosseguiu-se mais um de nossos sábados.

Leonardo Ribeiro
Enviado por Leonardo Ribeiro em 03/02/2014
Reeditado em 03/02/2014
Código do texto: T4676301
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.