O Escritor e o Crítico

Minha obra literária flerta mais comigo mesmo do que com os outros escritores. Meu estilo está carregado de um lirismo facilmente notado pelo leitor. Não me atrelei, para escrever, apenas no pós-moderno, no “fashion”, mas nos ortodoxos que me encantam até hoje. Ler a poesia da Castro Alves, para mim, é viver-se o romantismo desejado nos dias atuais, esses, hoje, tão diluídos e esquecidos.

Estou sempre entre boas obras. Faço de minha biblioteca uma linda passarela de onde observo a elegância dos passos que as obras dão para me mostrar todo o seu glamour. O pensamento urbano viciado, a distanciar-se dos ares campesinos da prosa e da poesia, não me acompanha. Deixo uma perna no campo e outra na cidade. Velejo por esses dois mares, enfrentando as tempestades e as calmarias dos textos que leio. Só assim aprendo a velejar com segurança.

Quando escrevo, procuro imprimir nas entrelinhas do texto a sutileza da minha filigrana literária. É uma pena que só um punhado de leitores saiba procurar essas máculas literárias de cada um que assim escreve. Não me interessa ser comum apenas. É na ousadia da diferenciação que se aprende a inovar, mesmo que estejamos sujeitos aos erros do desconhecido. Arrisco.

Corro léguas para fugir de certas pedagogias panfletárias – quase opressoras, tentando unificar estilos de escrita como se falassem para soldados aquartelados. Parece que moram nas vizinhanças de meia dúzia de críticos literários que se amedrontam ao ser requerido a debruçar sobre textos de autores novos e serem compassíveis.

Inovar a qualquer custo é o que carrego comigo desenfreadamente. Meus exageros enchem páginas, e os que lêem despreconceituosamente gostam deles. Há outros, porém, que, enciumados pelo meu poder criativo e riqueza do meu imaginário, mesmo engasgados, silenciam ou desdenham deles. Fujo desses deslustrados da vida como o diabo da cruz. Nem tolero a monotonia, quanto mais o ócio. A oralidade não me substitui a escrita. Escrever é o meu maior energético. A literatura para mim é absolutamente indispensável. Amo-a desmedidamente. Carrego-a dentro de mim como se meu principal fôlego, fosse.

A crítica literária tem sido muito rigorosa com os escritores que começam. Fala pelos cotovelos para ferir a obra e a vida de quem escreve. Excetuam-se poucos, daqueles que conheço, aqueles que realmente vêem a obra com um olhar literário justo, desprovidos dos ranços do olhar crítico.

Nem sempre, dentro dos muros do academicismo literário, se vêem grandes obras sendo produzidas. Às vezes esse rótulo serve apenas para lustrar o que não devia nem ter nascido. A mídia, essa outra arma poderosa usada para quem quer vender apenas, é faca de dois gumes: corta e alisa.

Para tudo isso renovar-se, em termos tanto de produção como da crítica literária ao lado dos olhos dos leitores, basta que os governos fomentem a produção e a leitura de livros pela população como um todo. As bibliotecas devem ser os nossos santuários culturais. As nossas casas não devem mais possuir bibliotecas-vitrines, e sim uma burburinho de leitores, uma desarrumação de espaços de leituras, um êxtase de trocas intelectuais entre o escritor e o leitor, via livro. Uma verdadeira revolução da leitura. Quanto mais um povo lê, mais revoluções faz. É somente através do livro que podemos viajar carregando qualquer sonho pelo qual haja interesse.

A função do crítico, a meu ver, está mais para enxergar as belezas do texto do que maltratá-lo com as falas de espinho, tão comuns de se ver hoje em dia. Quem critica tem a obrigação de saber escrever muito bem, mais até do que o criticado.