Uma mulher de verdade!

Não estou autorizado a considerar se ela foi feliz ou não, ou ainda o quanto. Ainda bem jovem conseguiu emprego naquela fábrica de tecidos no interior. Irmão mais velho doente e uma mãe severa, mas com aquele amor que a gente sabe que está lá, guardadinho, ela mantinha a todos com seu emprego. Quase tão precoce quanto as responsabilidades que assumira lhe apareceram os primeiros sinais de uma artrite que não se tinha ideia de quanto a atormentaria. Foi assim, vendo-a se aproximar puxando a perna que, junto com os primos, fui ao seu encontro vindo do trabalho ainda com fiapos de algodão mesclando-lhe os cabelos. Eram 5 e ela mantinha a todos com sua labuta. Passara-se 12 anos desde o início daquela carreira de tecelã. 1962/63 foram dois anos que eu e minha mãe passamos sob os auspícios daquela mulher seus filhos, mãe e irmão. Ria fácil. Tentava sempre fazer das tarefas algo interessante. Com o passar do tempo eu só ocasionalmente voltava àquele vilarejo de trabalhadores recortado por um rio com direito a cachoeira, ilhas, boa pesca, plantações de macaxeira e restos de viçosa mata atlântica. Mais um tempo e eu quase somente lembrava aqueles lugares uma vez ou outra. Visitava-os cada vez menos. Talvez porque os primos e primas foram casando e aquela confraria infantil foi ficando no passado, mas minha tia continuava com o seu jeito carinhoso e suas dores nas juntas reivindicando que eu a visitasse com intervalos de tempo menores, certamente porque desenvolveu sentimentos próprios de quem atinge certa idade e vai descobrindo virtudes na gente que nem a gente acha que tem, ou para os olhos de sua falecida irmã repetidos nesse seu sobrinho.

Hoje estou muito triste. Com a sensação de que não atendi aos seus pedidos indo vê-la com mais frequência. Ela também se foi.

Adeus Tia Ester!