Argentina 6
A ÚLTIMA ESPERANÇA DA TERRA
Passado o susto inicial, pude ver que o motorista me aguardava. Fomos direto do aeroporto para a empresa, num trajeto de 40 minutos pelos subúrbios da cidade até Villa Maipú. Os arredores de qualquer grande cidade são muito parecidos. O que muda são os detalhes e nesses eu percebi particularidades que me chamaram a atenção:
As bandeiras foram das primeiras coisas que notei. Elas estavam em todos os lugares por onde passávamos, nos prédios, nas fábricas, nas escolas, com o seu azul pálido e o branco maculado pela exposição ao tempo. O motorista informou que não se tratava de nenhuma data especial, mas que aquele era um hábito arraigado na Argentina e nem estava ligado a recentes manifestações de patriotismo em razão das Malvinas. O argentino cultua a sua bandeira.
Outro detalhe que de imediato despertou meu senso crítico foi o dos carros, todos de modelos muito antigos. O próprio "coche" em que eu estava não tinha mais do que 2 anos de uso e, pela aparência externa e detalhes do acabamento interno, parecia uma relíquia dos anos 50. A transmissão era de acionamento por alavanca acoplada à coluna da direcão, como os antigos modelos importados que primeiro chegaram ao Brasil. Os "micro", que é como os Argentinos se referem aos ônibus coletivos, tinham o motor na frente, como nos caminhões. Esse estilo de ônibus já era raridade aqui no meu tempo de menino. Nós os apelidávamos de "cara de cachorro".
A empresa ocupava duas quadras nesse outrora importante bairro industrial da província de Buenos Aires. Logo que chegamos, Carmelo levou-me a visitar as instalações. Foi uma das visões mais aterradoras da minha vida: o vazio e o silencio da ausência de vida.
Gastamos cerca de meia hora para percorrer as duas fábricas e os escritórios. Tudo em seu devido lugar: as máquinas operatrizes, fiações, ferramentas, pranchetas de desenho, máquinas de escrever, calculadoras, sem ninguém para acioná-los.
Lembrei de um filme com Charlton Heston (The Omega Man, "traduzido" aqui no Brasil como A Última Esperança da Terra), em que percorria as ruas de Los Angeles, com todos os prédios intactos, os carros nas ruas, mas nenhum ser humano, devido a um holocausto nuclear que dizimara a raça humana, só restando ele próprio.
Milhões de dólares imobilizados e sem possibilidade de recuperação. A produção já estava parada há mais de 1 ano e sem nenhuma perspectiva de recuperação ou venda das máquinas e equipamentos e nem mesmo de aproveitamento daquele enorme espaço para qualquer outra finalidade. Simplesmente não havia para quem vender. A economia argentina deixara de existir.
Aqui no Brasil, com sorte talvez nunca cheguemos a uma situação como aquela, mas que os nossos políticos estão tentando, ah isso estão...
Segue...
Leo
A ÚLTIMA ESPERANÇA DA TERRA
Passado o susto inicial, pude ver que o motorista me aguardava. Fomos direto do aeroporto para a empresa, num trajeto de 40 minutos pelos subúrbios da cidade até Villa Maipú. Os arredores de qualquer grande cidade são muito parecidos. O que muda são os detalhes e nesses eu percebi particularidades que me chamaram a atenção:
As bandeiras foram das primeiras coisas que notei. Elas estavam em todos os lugares por onde passávamos, nos prédios, nas fábricas, nas escolas, com o seu azul pálido e o branco maculado pela exposição ao tempo. O motorista informou que não se tratava de nenhuma data especial, mas que aquele era um hábito arraigado na Argentina e nem estava ligado a recentes manifestações de patriotismo em razão das Malvinas. O argentino cultua a sua bandeira.
Outro detalhe que de imediato despertou meu senso crítico foi o dos carros, todos de modelos muito antigos. O próprio "coche" em que eu estava não tinha mais do que 2 anos de uso e, pela aparência externa e detalhes do acabamento interno, parecia uma relíquia dos anos 50. A transmissão era de acionamento por alavanca acoplada à coluna da direcão, como os antigos modelos importados que primeiro chegaram ao Brasil. Os "micro", que é como os Argentinos se referem aos ônibus coletivos, tinham o motor na frente, como nos caminhões. Esse estilo de ônibus já era raridade aqui no meu tempo de menino. Nós os apelidávamos de "cara de cachorro".
A empresa ocupava duas quadras nesse outrora importante bairro industrial da província de Buenos Aires. Logo que chegamos, Carmelo levou-me a visitar as instalações. Foi uma das visões mais aterradoras da minha vida: o vazio e o silencio da ausência de vida.
Gastamos cerca de meia hora para percorrer as duas fábricas e os escritórios. Tudo em seu devido lugar: as máquinas operatrizes, fiações, ferramentas, pranchetas de desenho, máquinas de escrever, calculadoras, sem ninguém para acioná-los.
Lembrei de um filme com Charlton Heston (The Omega Man, "traduzido" aqui no Brasil como A Última Esperança da Terra), em que percorria as ruas de Los Angeles, com todos os prédios intactos, os carros nas ruas, mas nenhum ser humano, devido a um holocausto nuclear que dizimara a raça humana, só restando ele próprio.
Milhões de dólares imobilizados e sem possibilidade de recuperação. A produção já estava parada há mais de 1 ano e sem nenhuma perspectiva de recuperação ou venda das máquinas e equipamentos e nem mesmo de aproveitamento daquele enorme espaço para qualquer outra finalidade. Simplesmente não havia para quem vender. A economia argentina deixara de existir.
Aqui no Brasil, com sorte talvez nunca cheguemos a uma situação como aquela, mas que os nossos políticos estão tentando, ah isso estão...
Segue...
Leo