A ditadura da moda

A palavra ditadura está constantemente na mídia. Se ela for tema de uma redação, qualquer estudante, por mais desinformado que seja, terá facilidade de discorrer sobre o assunto. Mas vou falar de outra ditadura, a da moda. Acho que o termo se enquadra bem ao que acontecia naquela época, que, por coincidência ou não, era também a do sistema de governo no qual vivíamos.

Não sei se as mulheres se adaptaram bem àqueles ditames, sei apenas que para mim não foi fácil. Era como se a moda fosse decretada e todas as pessoas tivessem uma faixa nos olhos que as impedia de terem uma visão crítica. Todos usavam o que os estilistas e modistas, enfim, pessoas do ramo, determinavam. Aquilo me incomodava, pois parecia que as mulheres estavam uniformizadas. Era a cor da moda, o cabelo da moda, a maquiagem da moda. Muitas mulheres ficavam ridículas, usando certo tipo de modelo que não se adequava ao seu tipo físico, mas usavam! Estava na moda e isso era determinante. Se alguém não o fizesse, seria criticado e chamado de cafona. Aliás, esse termo era muito usado e havia até uma novela chamada “O cafona”, que estreou no ano de 1971, tendo Francisco Cuoco como protagonista.

Lembro-me de que no tempo da minissaia o comprimento tinha que ser medido, vejam bem, medido. Era um palmo acima do joelho. E ai daquela moça que não estivesse com o comprimento da saia decretado pela moda. Eu bem sei o quanto eu incomodava as pessoas. Queriam sempre saber por que a minha saia não estava no comprimento certo. Perguntavam se o meu pai era muito bravo. Algumas me aconselhavam a dobrar o cós da saia... Como sempre fui muito autêntica comigo mesma, nunca acatei essas sugestões. Mas tinha conhecimento dos apelidos que recebiam as que não se curvavam a essas normas.

A calça jeans também teria que ser muito apertada, tão apertada que necessitava fazer-se alguns malabarismos para conseguir vesti-la, pois naquela época não havia a calça de strech. Minha mãe falava: “Parece que a calça foi costurada no corpo!” E o chique era usar calça Lee importada. Uma vez uma professora apareceu com uma calça Lee brasileira e virou motivo de crítica no meio dos alunos. Eles falavam: “Vocês viram a fulana, usando calça Lee brasileira? Como pode ter um gosto assim?!”

A moda prêt-à-porter praticamente não existia. Esta expressão vem dos termos franceses prêt (pronto) e à-porter (para levar). Na linguagem do mundo da moda, se traduz por "pronto para vestir". Como eu me dispunha de tempo naquela época, gostava de desenhar os meus modelos. Era uma forma de exercitar a criatividade. Depois os levava à costureira e ela executava com precisão. Tive a ousadia de criar até o meu vestido de noiva.

Depois vieram as roupas prontas, mas seguiam sempre uma tendência. Finalmente vivemos uma época excelente, a moda agora respeita o gosto do cliente. Não existe mais aquele divisor de águas e cada estilista apresenta a sua tendência. Pode-se optar por aquela que melhor se identifique com a personalidade de cada um.

Por falar em tendência, para a geração Millennials, que é a geração Milênio, ou seja, aqueles nascidos entre os anos 1980 e 2000, esse conceito está cada vez mais deslocado. Como disse a estilista e consultora de Moda, Luciane Morazzi: “Cada vez mais vamos acompanhar a individualização da moda para essa geração. É o que já esta acontecendo, mas parece que as revistas, sites e blogs de moda ainda possuem um apego "emocional" com o termo, que já algum tempo, não reflete mais a realidade da rua. A geração Millennial veio para provocar mudanças, questionar, debater, se colocar e colocar o planeta em outro eixo”. Portanto, não há certo ou errado, há uma escolha.

Além disso, há ainda uma palavra muito usada no mundo da moda, que é customizar, ou seja, adaptar uma roupa comprada pronta ao gosto e personalidade de alguém. Pode-se utilizar tudo que a imaginação alcançar, como: linhas de diversos tipos, retalhos coloridos, rendas, fitas, botões variados, fechos, miçangas, lantejoulas, etc. Dessa forma a peça se torna nova e única. As calças jeans são muito utilizadas para isso, que podem se transformar em uma saia ou um short. Podemos dizer que a customização também se torna sustentável e anticonsumista, o que agrada muito em uma época em que se fala muito em sustentabilidade.

Déa Miranda
Enviado por Déa Miranda em 01/02/2014
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