VOVÓ MIRALDA E OS NETOS
Vovó Miralda andava confusa e se comportando de forma estranha nos últimos dias. Esquecendo de tomar os remédios e de limpar os óculos. Também não era para menos, faltava pouquinho tempo para a chegada dos netos do interior. Era período de férias escolares. Para a doce velhinha era tempo de comprar mais carne, mais arroz, mais paezinhos e muita couve com torresmo. A mirrada pensão estava com os dias contados, ou melhor, com o mês contado.
Pelo telefone ficou sabendo que a Kombi estava chegando e que faltavam apenas alguns quilômetros de distancia da capital mineira.
Antes da chegada dos doze netos, Vovó entrou no banheiro tomou aquele banho relaxante. A velhinha nunca tinha tomado um banho desses de uma hora, a sovina decidiu se esbanjar. Afinal seria o último banho tranqüilo antes das dívidas com o supermercado e com a padaria. Olhou detalhes do banheiro que nunca observara; como o volume de água do chuveiro e a nuvem de fumaça de um banho demorado. A doce velhinha esquecera de tudo; da dívida da previdência, da crise aérea e até do PAC.
Neste momento, os netos acabaram de adentrar pela sala de estar, com as malas e aquela confusão juvenil. Neste momento a porta do banheiro abre de forma voraz e a sorrateira velhinha aparece nua diante dos doze netos.
- Não enxergo nada, fiquei cega, meus Deus! Falara a vovó aos prantos.
- Me ajudem, por favor! Insistia a doce velhinha.
Todos os netos ficaram inertes e anestesiados diante da cena. Afinal, nunca tinham visto uma ex-nadadora do Minas Tênis Clube pelada. Olhem leitores! Os seus antigos maiôs da Vovó eram desenhados pelo estilista mineiro Alceu Penna da Revista O Cruzeiro.
Em meio aquela paralisia total. Igualzinho o PT diante do mensalão. Aparece da cozinha, a secretaria Zuleika e dispara a falar:
- Dona Miralda que cegueira, que nada! Deixa ver isto! É só tirar os óculos que estão embaçados.