11 anos de cadeia
Quinta-feira é dia de visitar o presídio da Cidade Ocidental. E imagine se eu não for! O homem tem um troço! Se bem que não é muito diferente quando eu vou. Ele só sabe chorar. E eu choro junto, é claro, como é que não vou chorar? Ainda mais que o homem é inocente. Ninguém acredita, mas eu sei que é. Minha mãe não pode nem ouvir falar no nome dele. Mas o que eu posso fazer? Ele ainda é o meu marido. E mesmo que não fosse, ele continua sendo o pai do Gustavo. Então eu continuo visitando, toda quinta, mesmo achando aquele lugar horrível. Merecia até que alguém escrevesse a respeito. E pra piorar o homem ainda se mete em confusões lá dentro. Teve um dia que ligaram no meu celular que era pra avisar pro meu marido não abrir o bico. Morri de medo, é lógico. Eu não sei o que ele passa lá nos dias que não tem visita.
Ultimamente ele deu pra ter crise de ciúme. Fica insinuando que eu já devo ter arrumado outro, que isso, que aquilo. Eu digo pra ele, quando é que eu vou ter tempo de arrumar outro? Saio cedo de casa, fico o dia todo trabalhando na casa dos outros, volto super tarde e ainda tenho que cuidar da casa e dos meninos. E fim de semana é a mesma coisa, quase todo domingo eu arrumo serviço. Da onde que eu vou ter cabeça pra arrumar outro? Eu falo isso mas às vezes não adianta, ele diz que quer terminar tudo. Dali a pouco se arrepende, pede perdão, diz que tá fragilizado, e não sei o quê.
Outro dia levei o Gustavo lá. Não costumo levar. Mas é que ele tava doentinho, com a boca toda torta, o médico disse que foi um vírus, tinha que fazer fisioterapia todo dia pra melhorar, e eu achei que se levasse pra ver o pai ele ia se animar um pouco. Mas foi aquela choradeira. O Gustavo perguntou até quando o pai tinha que ficar lá e ele disse que ia demorar um pouco ainda. Falou isso porque não dava pra dizer que ainda tem 11 anos de cadeia pela frente. Deus que me perdoe, mas tem quinta-feira que eu não tenho vontade nenhuma de fazer a visita.