A E R O P O R T O
Ysolda Cabral
À minha frente um pai ensina dois filhos a jogar baralho, enquanto espera a hora do embarque.
- Convém ensinar?
O aeroporto bonito é tomado por gente, cores e moscas... Moscas que voam, enojam, perturbam na disputa por migalhas de comida.
- Sinto meu estômago revirar...
Gilberto Freire, escritor e sociólogo pernambucano, é estátua à minha frente - homenagem da Infraero, diz a placa.
- Não vejo moscas nele!...
Indiferente a tudo, o povo passa pra lá e pra cá.
No teto de vidro, o Céu nublado lembra perigo.
- Ah, pássaros de aço! Medo, estresse, atrasos...
Penso em minha filha que está para chegar e rezo.
Observando alguns semblantes, catalogo os alegres. Os tristes me deprimem e me convidam a ajudar. Como não posso, abro a bolsa e pego o porta-batom. Olho-me no espelho e o que vejo não consigo precisar. Guardo tudo depressa, me perguntando a razão da hora não passar...
Próximo, alguém conversa uma conversa que não diz nada. Coisa de quem parte deixando alívio ou saudade...
- Sei lá!
O serviço de som avisa coisas de rotina ou importantes, que ninguém ouve.
Não vejo tristeza e nem alegria nas partidas e nem nas chegadas...
- Estou aflita!
- Será que somente eu espera uma fiha?
Recife-PE
Em Estado de Espera
30.01.2014