DE QUATROCENTÃO AOS CEM CRUZADOS

Desci para o trabalho lembrando do meu avô, alto, magro, grandes olhos azuis, médico formado, culto e falido. Senti vontade de falar sobre ele, das aventuras de Benedicto.

Já conheci meu avô velho, ele foi pai aos 50 anos, então por consequência eu o conheci aos 80. Adorava passar do lado dele para levar uma chibatada de jornal e ouvi-lo: - Augustaaaa !!! Era meu apelido. Me deu tanto levedo de cerveja para não ter espinhas, que acarretou em peso. Me deu tanto Biotônico Fontoura que ia meio grógui para escola, acho que por isso gosto tanto de cerveja.

O Vovô veio da família de Cafeeiros aqui da região de Jaú/SP, Pacheco de Almeida Prado, casavam-se entre familiares para não dividir fortuna. Formado em medicina, nunca exerceu a profissão até os 60 anos, foi médico sanitarista e logo se aposentou por idade. Teve babá e mãe negra até os 40 anos. Edifícios em Campinas, as quadras que cercam a casa da vovó eram todas dele.

Ele conseguiu beber todos os bens, comprava um bar entrava bebia tudo e sai 2 dias depois e entregava a chave pro dono, e por ai foi, festas, mulheres, bebidas.

A vovó era descendente da Condessa Rosa do Prado, mas de familia bem mais simples, que meus parentes nunca leiam, vovó metralha tentou dar o golpe do baú e se deu mal, o vovô já estava em decadência tanto pessoal quanto financeira.

Casados, ela descobriu que a casa não era dele, e nem ele pertencia a ele mesmo, e sim ao álcool. Viveram, infelizes para sempre ! Sem amor, sem afeição, sem dinheiro, ela teve que aprender a costurar para sustentar a família. Disse adeus a descendência nobre e ao orgulho.

Quando o vovô morreu, o único bem da família além da casa doada por um irmão, era uma Variant que meu irmão comprou meio/meio com a vovó, e precisou vender para comprar o caixão por 100 cruzados.

Quando ouço minhas tias dizendo sobre a nobreza do sobrenome, me calo e penso: -Bela Bosta !! Cale-se !!

E o ditado pertinente: Pai Rico, Filho Nobre e o Neto é pobre !! O Pobre foi meu pai, minha única herança foi o sobrenome, e a vontade de não cometer os mesmos erros. E agradeço a clareza, que toda a história deles me serviu como lição de vida.

Do Prado
Enviado por Do Prado em 31/01/2014
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