CINCO POR CENTO
Hoje estive com uma amiga e conversávamos sobre o quanto eu me sentia realizada e começamos nas nossas estatísticas sobre mim.
Profissionalmente: 60%
Socialmente: 40%
Então ela me questionou: Peraí, essa contagem está errada!
Eu respondí: Tá não, Mary... Tenho um emprego que não é mal remunerado, é apenas remunerado de acordo com a Constituição, se eu quiser ser melhor remunerada, faço outro concurso e vou ganhar mais. Sou uma pessoa que apesar de ganhar pouco, recebo gratificações pessoais que o dinheiro não paga... Ex-alunos que até hoje não esqueceram de mim, a satisfação por formar pessoas de bem... Tudo isso está em jogo e meu trabalho é bom, independente de eu ser ou não concursada, de eu ser ou não bem remunerada. Amo o que faço e o resto é só detalhe.
Ela botou a mão na cabeça, inquieta e disse: Eu sei, Solange, mas e os outros 40%?
Ah, socialmente falando estou bem. Tenho uma família que tem lá seus problemas, como todo mundo, mas dá pra conviver com eles e não me estressar. Adoro quando chego em casa e vejo o brilho nos olhos do meu pai, a alegria da minha mãe; sou escritora, estou na Academia Aracatiense de Letras, faço um esforço para frequentar a igreja... Não sou perfeita, mas, me esforço para, pelo menos, na minha imperfeição e falta de santidade adorar aquele que é Santo e Ele tem me atendido. Sou formada, pós graduada, tenho amigos...
Aí ela perguntou, me interrompendo: E o namorado?
Fiquei calada. Continuou:
E o lazer?
Continuei calada.
Gente, só uma pessoa mais inteligente do que eu pode me fazer cessar meus argumentos fortes, por vezes, persuasivos.
Falei para ela: Mary, eu estou apaixonada por alguém, mas isso é muito relativo... Para eu dizer se me sinto realizada nesse aspecto ele tem que me querer também, então, não entra na estatística!
Ela suspirou e perguntou de novo: E o lazer? Você tem saído com os amigos? você tem viajado? Você tem ido à praia? Você tem ido ao cinema, tem feito exercícios físicos?
Suspirei, não incomodada, mas, tocada e disse:
Mary, vamos refazer essa conta:
Profissionalmente: 50%
Socialmente: 40%
Indignada, ela respondeu: Mas, Solange a sua vida se resume a isso?
Falei: Claro, Mary. Minha vida em sociedade está subdividida da seguinte forma: Família, Lazer, Amor, Igreja, Academia de Letras.
Família: 10% = ótimo (não me esforço tanto, mas dá pra gente se aguentar)
Igreja: 20% = Excelente (me esforço e Deus vê isso)
Academia: 10% = ótimo (me esforço e sou reconhecida por isso)...
Ela rebateu: Mas tu és ruim de cálculo mesmo! Por que a vida profissional é maior do que a vida social?
Respondi, serenamente: Porque meu trabalho me faz pagar minhas contas; logo, ninguém precisa arcar nada comigo, ao contrário, eu ajudo em casa. Porque meu trabalho me dá a alegria de ajudar na formação do caráter das pessoas. Então, um aluno meu bem encaminhado é um a menos na criminalidade. Porque o meu trabalho me traz muitas amizades, então minha vida profissional me garante boa estabilidade social e emocional, consequentemente, pelo menos durmo tranquila. Se a gente for pensar bem, a minha vida profissional, pura e limpa, me garante 30% de satisfação e os outros 60% vai pro lado social!
Ela continuou: E os outros 10%?
Eu disse: Não tenho.
Ela disse: E o amor e o lazer? Solange, satisfação profissional não é lazer, escrever não é lazer - é trabalho, família, cachorrinho não é lazer... Pensa bem! você é jovem, bonita, tem N possibilidades de ser feliz.
Eu disse: sou 90% feliz. Não é uma boa estatística?
Ela, quase irritada, disse: FAZER feliz 90% não é a mesma coisa de SER feliz! E os outros 10%?
Eu respondi, pensativa, concordando:
Mary, se ele me quisesse, se ele me desse 5% do que desejo para meus 100% :1% de carinho, 1% de atenção, 1% de alegria (safada), 1% de aventura e 1% de realização enquanto mulher e humana, eu teria 5% de amor e 5% de lazer. Então, aí, sim, eu seria 100% feliz.
Ela sorriu e disse: Mas você é boa de cálculo mesmo, hein? Devo concordar que com ele você teria carinho, afeto e ainda iria se divertir muito!!!
Gargalhamos, nos abraçamos, nos despedimos e pela primeira vez venci na lábia uma Bacharel em Estatística!
Solange Guimarães
30/01/2014
20:18