ADROALDO, O PAPAGAIO
Quando o cachorrinho morreu, companheiro de muitos e muitos anos, o mundo desabou. Ali, todos choraram – e muito. O papagaio verteu umas lágrimas, emudeceu por vários dias, não queria saber de seu ninguém. Aliás, ali, ninguém queria saber mais de seu ninguém.
Ante a dor generalizada, todos – pai, mãe, filhos e a empregada – fizeram juramento público: “Não queremos mais criação. A gente se apega demais, sofre demais, melhor não ter mais bicho em casa. O papagaio é o último. Acabou.”
Com o tempo, a rotina retomou seu leito maçante. Pai e mãe voltaram a caminhar no parque e a se sentar no banco pra assuntar bobagens. Os filhos não tinham mais como não cuidar de si, da vida, das obrigações. A empregada retomou a cantoria, com a voz medonha que Deus lhe deu. O papagaio, embora saudoso do cão amigo, voltou a imprecar contra tudo e todos que habitam a terra do sol. Era sua forma de driblar a dor.
Num dia que não era tão belo assim, pai e mãe no parque, sentados assuntando bobagens, assistiam ao desfile dos contentes com seus cachorrinhos de estimação. Viram um pobre diabo abandonado. Pai e mãe se entreolharam. E disseram em uníssono: “Nem pensar, juramos que não”. O coração mole da mãe resolveu dar um biscoito ao largado. O coração bobo do pai falou mais alto: “Bolacha sem água, com um calor desses, não pode ser”. E lá veio um copinho d’água.
Já não eram mais dois.
Voltaram pra casa. Abriram o portão. E o papagaio não se conteve:
-- Seja bem vindo, Totó.