A VENEZIANA

A VENEZIANA

28/01/14

Estava deitado em uma estreita cama de solteiro e aos pés, a direita, uma janela que na noite de lua nova, e pela escuridão do quarto, deixava passar por entre as réguas de madeira, sons difusos de um transito que teimava em perdurar e rápidos clarões quais flashes de uma máquina fotográfica a trabalhar incessantemente em intervalos irregulares.

Envolto e desperto por pensamentos desordenados, provocados pela desordem da vida nos últimos tempos, lutava por acalmar a mente, pois precisava estar vigilante e alerta para as incertas possibilidades do dia que se aproximava.

Nunca me opus as eventuais insônias que por raras vezes se fazia por minha companhia. Não era ela que me preocupava, mas sim a mente que pela profusão de pensamentos desconexos, não tinha o necessário repouso para funcionar como eu, mais do que nunca, necessitava.

Precisava retomar o domínio da mente e ordenar os pensamentos que espocavam como os flashes de luz que ultrapassavam as venezianas da pequena janela. E foram elas, as venezianas, que me deram a motivação e o direcionamento para traçar o caminho a ser percorrido pelos pensamentos.

Comecei a pensar na vida como sendo as venezianas que pelo estreito espaço de suas réguas permitia a passagem da luz que na vida representaria os momentos de felicidade. A principio, pensei que as luzes, ou a felicidade, eram apenas flashes que quase nada duravam e o que prevalecia era a escuridão. Foi aí que, como um raio de luz, me vem a mente a seguinte frase: claridade ou escuridão é uma simples opção.

Daí segui pensando na possibilidade e veracidade desta frase. Levantei-me da cama e caminhei até a janela. Lá chegando percebi que os espaços entre as réguas eram maiores que a própria espessura de cada régua. Que por estes espaços a luz era constante, mais brilhante, ou menos brilhante, mas constante. Verifiquei também que as réguas giravam de forma conjunta, bastando um leve contato e uma pressão direcionada para onde queríamos que se movimentasse. Quando as coloquei paralelas ao chão, vi que a luz antes vista em flashes era perene. Girei mais um pouco invertendo os espaços que antes estavam de cima para baixo e que agora ficaram de baixo para cima. Fui deitar.Da cama pude ver que a luz ficara constante. Dormi.

Geraldo Cerqueira