RITMO DA VIDA

Prof. Antônio de Oliveira

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Ritmo é uma dessas noções que todo o mundo vive, e de que, em geral, apenas os músicos se dão conta e dão conta de admirar-lhe a riqueza e de administrar-lhe as variações. Diz a canção que quem não gosta de samba bom sujeito não é: é ruim da cabeça ou doente do pé. Claro que é uma força de expressão, e bem nacionalista. Afinal, samba é apenas um ritmo.

Se a vida é, por natureza, movimento e movimento imanente, também o ritmo lhe é inerente. O ritmo de vida do interior não se compara com o ritmo de vida das cidades grandes. No interior, a sucessão de tempos é mais fraca, mais lenta; nos grandes centros, o movimento é forte, rápido. O lamento do chiar das rodas de um carro de boi não se compara com o barulho frenético de uma moto detonada. Com efeito, no campo se vai mais ao vai da valsa, suavemente, mais ao sabor dos acontecimentos, mais no vai levando...

Inseparável do ritmo é a ideia de tempo, como no gotejar ritmado de uma torneira pingando, ou como nas batidas do coração. Quando este para de bater, babau! Quando caminhamos, produzimos uma alternância de apoio em dois tempos: apoio com um pé e impulso com o outro. Um tempo forte, apoio, e um tempo fraco, impulso. Cada bípede ou quadrúpede no seu ritmo. Cada qual é cada qual. Mas se o soldado não marchar direito vai preso pro quartel... Pular corda vai no ritmo. A ave saltita de galho em galho. Também a poesia é ritmo cadenciado.

A ideia de movimento sempre impressionou os grandes pensadores: uns, preocupados com a sua medição; outros, os filósofos, com a sua natureza. Para alguns, o movimento nem existiria. Seria apenas uma ficção, uma criação da nossa mente. No campo do pensamento vale tudo.

Além disso, parece evidente que exista também o tempo psicológico. Pois é o que a gente mais percebe. Momentos de alegria passam depressa; momentos de tristeza se prolongam no nosso espírito. Ah!... Até o esperar tem seu ritmo. O brasileiro vive em ritmo de espera.