Corsários das Ilhas
A Revolução
Corsários das Ilhas
‘A atitude radical do ilhéu é chegar à porta de casa e interrogar o mar.’
São palavras do corsário Vitorino Nemésio. E foram as que o corsário Eduardo Jorge me propôs para este texto.
A primeira pergunta que me veio à cabeça foi: será que a atitude radical do ilhéu é mesmo ir à porta da rua e interrogar o mar?
Pensando bem, talvez fosse assim em tempos, em tempos longe da minha criação, talvez até tenha sido assim no tempo de Vitorino, mas acho que hoje não será bem assim.
Aliás, pensando melhor, estou quase convencido de que nem sempre foi bem assim.
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Acho que o açoriano olhou sempre mais para o céu do que para o mar. O céu como o princípio e o fim de tudo: temido mas seguro; o mar: temido e inseguro. Aliás, quando o açoriano quis perceber o mar, interrogou o céu, pelo que, se pode dizer que o nosso mar é o nosso céu.
O corsário Vitorino foi um homem das ilhas vivendo meio fora meio dentro. Era um corsário dos tempos idos ao preferir o barco ao avião: não se temia do mar mas temia-se do céu. Era um corsário dos tempos por vir ao navegar a crista da onda das novidades sem nunca deixar de ancorar nos tempos idos.
Por essa e por outras, era um dividido: lá longe em carne e osso, queria estar perto em espírito aqui mesmo connosco.
Sempre esfomeado por novidades, se tivesse vivido agora, posso pôr as mãos no fogo à confiança, sendo um profundo humanista, estaria a usar os novos meios com sábia parcimónia e gulosa usura: o que nos ajudaria a guiar por entre a selva das novas estradas.
Estaria com a certeza que temos de que a seguir ao dia vem a noite, mais perto de si próprio podendo estar fora daqui dentro aqui e dentro daqui fora por aí.
Nós, por nós, corsários sucessores do corsário Vitorino estaríamos muito mais perto da nova estrada e não nos perderíamos tanto por entre o labirinto do lixo.
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Diz-me o corsário Eduardo: tudo bem, muito literário, mas não apontas pistas. Ainda que estejam aí de modo subliminar. Pediste-me a opinião e aqui a tens.
Pistas para o século XXI? Sem pretender ser vidente, mas apenas seguir o que me parece ser evidente, melhor pensado, eis algumas pistas a esmo:
a) De só espírito primeiro passamos a viajar com a voz: telefone;
b) Para depois passarmos a viajar também com a imagem: televisão;
c) Para passarmos a viajar de corpo e alma inteiros: teletransporte;
d) Para passarmos a viajar dentro de nós: nanotecnologia;
e) Para passarmos a entrar na cabeça dos outros: telepatia.
Consequências?
a) Diálogo entre o Local e o Universal?
b) Diálogo consigo?
c) Com o outro?
Caminho? Não sei. Mas talvez o corsário Nemésio me soubesse dizer.
Só sei que esta é a grande revolução, nenhuma das anteriores se compara a ela: nem a industrial nem a pretendida revolução socialista mundial.
Mário Moura
Janeiro de 2010