O Chip.

Hoje acordei cedo, as voltas e reviravoltas dadas na cama fizeram com que eu tenha dormido só três horinhas e já esteja aqui martelando nas teclas deste meu companheiro de momentos de insónia.

Ainda na cama, dei comigo a pensar na passagem de 2013 para 2014 e no convite que me foi feito para jantar e receber o novo ano na casa de praia dos meus vizinhos. A princípio declinei o convite, não que esta família não me mereça toda a consideração, mas porque gosto muito de estar no meu cantinho num ambiente mais calmo e sem ter que me deslocar para aqui ou acolá. Pura “calanzice”, dirão! Até poderá ser, porém, gosto de estar no remanso do lar e entreter-me a escrever o que vem à “moina”. Poder abusar um pouco do espumante sem estar preocupado com uma possível paragem para controle rodoviário.

Depois de muita insistência, entendi que tanta recusa poderia ser interpretada de má vontade da minha parte e acabei por aceitar desde que eu não tivesse que conduzir e assim poder receber o novo ano de goela bem molhada. E lá fomos nós.

Receberam-nos os primos dos meus vizinhos, na cave da vivenda, com mesa farta e aquecimento, o que só por si já era agradável. O jantar correu maravilhosamente e enquanto aguardávamos pela meia-noite foi-se contando umas anedotas.

Ainda antes, o amigo Messias brindou-nos com mais uma garrafa de espumante que fomos sorvendo entre os risos das piadas e a degustação de frutos secos. Até que a conversa escorregou para a caça e da caça para cães e dali para os chips, que se tornaram obrigatórios para animais considerados perigosos e para os de caça.

- O que mais se hão-de lembrar para a gente pagar? – Comentou o meu vizinho Avelino.

Saltou logo a terreiro defendendo a sua dama o Pedro, genro do meu amigo e veterinário de profissão.

- Eu estou a favor dessa medida. – Observou.

- Pudera! -Disse eu, já cansado de estar calado. – O lucro foi seu, com os milhares de chips que colocou.

Uma gargalhada do meu vizinho, foi a maneira que encontrou para me apoiar.

- Ó senhor António! Tem que convir que essa medida foi um meio de se apurar responsabilidades em caso de acidente.

- Tem razão Pedro, estou a brincar, mas diga-se de passagem que foi uma espécie de sorte grande para si.

- Se foi! Logo eu com dez cachorros, veja a quantidade de massa que se esvai por entre os dedos.

- Avelino não seja assim, aposto que o seu genro lhe fez um desconto.- Disse eu.

- Não paguei nada, vou pagando… Mas também só chipei três.

- Só três? Mas quando vai à caça leva-os todos, como é que resolve o problema se for apanhado pela Venatória.- Pergunto eu muito admirado.

- Digo que não são meus.

- Explica lá isso Avelino. – Solicitou o Messias.

- Então é assim, eu como caçador posso caçar com dez cães, mas já viram a enorme despesa que era ter que “chipar” todos os animais? É que isso obrigava a tirar também licenças para todos, o que ficaria num dinheirão. Então, só tenho legais três cachorros.

-E se for apanhado com tanto cão o que é que faz? – Pergunto.

- Faço o que fiz há três meses, quando fui apanhado por dois guardas.

- «A sua documentação senhor caçador!».

- «Eu mostrei tudo, inclusive as três licenças dos cães».

- «Mas ó amigo, faltam as licenças dos outros cães!».

- «Esses não são meus.» - respondi.

- «Como não são seus se andam atrás de si?»

-«E isso que tem? Vocês também andam atrás de mim e não me são nada».

Uma enorme gargalhada colocou um ponto final nesta história de chips.

Feliz 2014.

Lorde
Enviado por Lorde em 27/01/2014
Reeditado em 28/01/2014
Código do texto: T4667089
Classificação de conteúdo: seguro