Ninguém gosta do 17
Um a zero para nós e de repente sobe a plaquinha: sai o 10 e entra o 17. Imediatamente o estádio inteiro começa a vaiar, porque ninguém gosta do 17. E com razão, pois ele havia sido contratado depois de muita pendenga judicial, tinha um dos salários mais altos do time, mas ainda não havia mostrado a que veio.
Muito pelo contrário: já na partida de estreia havia perdido um gol embaixo da linha e foi parar no “Inacreditável Futebol Clube” do Globo Esporte. No jogo seguinte, escorregou na bola, cedeu o contra-ataque e foi gol do adversário. Não acerta um passe e sempre manda a bola para longe do gol. Mas ninguém pode dizer que falta vontade – às vezes até sobra, tanto que já foi expulso 2 vezes. Para piorar, a torcida percebeu que basta ele entrar em campo para alguma coisa ruim acontecer – ou o time leva gol ou alguém se machuca. Por isso, nada mais natural que todos vaiassem a entrada do 17 em campo.
Mas eis que na primeira bola que recebe ele dá um drible inacreditável no zagueiro e por pouco não sai gol. A torcida se diverte, porque é raro que ele faça uma boa jogada. Só que já em seguida o time leva o gol de empate e o 17 volta a ser chamado de pé frio. E ainda está sendo xingado quando alguém dá um chutão para frente, outro desvia de cabeça e a bola sobra livre para ele na frente do goleiro. Ele faz o drible e chuta com raiva. Gol! Gol! Gol! Corre até o alambrado para comemorar com a torcida, para mostrar que está com eles, que o investimento para trazê-lo valeu a pena, e que agora tudo será diferente. No entusiasmo, tira a camisa e a balança no ar. Está visivelmente emocionado e por isso demora a perceber que algo está errado. Até que se dá conta que ninguém está comemorando com ele. Volta-se para o campo e percebe que o bandeirinha deu impedimento. O juiz caminha até ele e dá cartão amarelo por ter tirado a camisa. Enquanto volta ao campo, o 17 ouve o grito da torcida: “Burro! Burro! Burro!”.
Tem fase que nem a ficção dá jeito.