SEJA FELIZ
SEJA FELIZ
Quando regressamos o tempo estava claro, frio e adorável, o mar estava calmo e o vento era tão somente uma brisa a refrigerar-me a pele tostada pelo sol. Acomodamos o barco no cais e saímos andando. A cidade já se acostumara ao inverno e nas ruas, a luz era linda. Já havíamos nos habituado a essa altura, com a nudez das arvores sobre o fundo do céu, como se fosse um cenário divino preparado para um único ato, a vida... É que uma parte da gente morre a cada ano, quando as folhas caem das arvores e seus galhos ficam nus e a luz fria percorre cada canto da vida até que a próxima primavera nos surpreenda com seus perfumes raros e deliciosos de tantos exemplares.
Naquele tempo a vida me parecia simples, a cada novo despertar repleto de surpresas, mas São Luis é uma cidade antiga e nos éramos jovens e nada era simples e nem mesmo a pobreza ou o dinheiro súbito, nem o luar, nem o bem ou o mal, nem a respiração de alguém que deitado ao nosso lado dormisse ao luar.
Em certos dias tudo corria tão bem e a natureza era recriada com tal nitidez que em meus versos juvenis eu me sentia como se percorresse as vielas da vida, atravessasse ruas e depois subisse montanhas e de lá visse braços de rios desbocarem em um mar sem fim... Assim, eu fecho os olhos como se cerrasse uma janela no tempo, de recordações tão próximas e presentes de fatos lindos, maravilhosos e que não ficaram presos no tempo, mas que eternizaram e fazem viver pessoas assim como eu, você e toda uma geração de homens, mulheres que lançaram as suas musicas ao vento, que destilaram suores, odores ao vapor frenético de nossas paixões e que hoje nos caem sobre a cabeça em forma de orvalho e rolam de nossos rostos curtidos pelo tempo, como se fosse um balsamo ou um derradeiro grito de prazer sobre o halo de um vulcão extinto que brotou flores. Assim, fomos tão felizes e somos ainda. Após os 60 anos eu ainda sonho com um amor impossível, trabalho, namoro, caminho de mãos dadas, danço e ainda outro dia eu me peguei escrevendo uma carta de amor...
Há uma grande diferença em tudo, mas não podemos nos aprisionar no passado. Temos o nosso próprio espaço e uma vida a pulsar dentro de nossos corações, é que a vida é sempre um universo de oportunidades e amores...
Hoje o dia amanheceu nublado, sem sol, sem cor. O silencio é completo e o vento parece que parou. Eu sentei no terraço de minha casa para apreciar as orquídeas e, viajei nos sonhos introspectivos e, além da enseada vi pessoas sorumbáticas em grande procissão. Ouvi choros e lamentações por alguém deles que havia partido ao encontro do criador, e o lamento era pior porque essa pessoa, segundo os relatos não havia vivido a vida passara por ela, assim como passam tantos. Aí eu pensei: será que você um dia já se questionou sobre isso? Sou capaz de apostar como não! Mas, é que o tempo passa depressa e não fossem tantos desejos, certamente seriamos mais felizes ou: escolha ser feliz sempre. Não importa o que você seja, o que você faça, onde more, seja em uma mansão ou em um casebre na favela. Seja você rico ou um pobre. Amem-se todos os dias, goste de você e da sua vida e lembre-se que independente de tudo que se possa suscitar, somos criaturas de Deus e somos o seu maior propósito. Amor, dor, medo, são sensações momentâneas, mas você é eterno, portanto, seja feliz...
Airton Gondim Feitosa