4.6.0 – A Sampa da MPB
Alguma coisa acontece no meu coração...
Ao ouvir essa canção parece-nos incitar nostalgia...
Bela canção!
Ainda a bela Sampa da canção é capaz de provocar algo no coração, porém, hoje, muito mais definido do que na canção de Caetano; muito mais concreto, ou melhor, visível. O que era uma incógnita no coração do poeta passou a ter forma, forma que demonstra sua realidade nua e crua.
A bela Sampa, velha, mas jovem metrópole do cruzamento mais famoso assumiu sua identidade: velha doente, desenganada, desolada... Não por que quisesse ser assim, mas por que quiseram que assim ela fosse.
Se ela confundia, contrastava, assustava, mesmo assim permitia que “os novos baianos” a curtissem numa boa, hoje, aos 460 anos, certamente, isso não é possível.
Ah, Velha Sampa!
Da violência de suas esquinas, das mazelas de suas avenidas, do comércio do crack na Rua Mauá, que deveria se chamar “Mal há”, e nesse mau bocado, pegue pó, pegue pedra é o fim do caminho...
Talvez o que achava Narciso ao olhar a cidade não fosse opinião sem crédito, pois nem tudo que não é espelho seria ilusão de ótica de quem enxerga tudo feio. São Paulo seria exceção na visão tendenciosa do esnobe, sua realidade é aquela que Narciso viu, sua realidade é essa que a gente vê: explorada, abusada, violentada, esculachada, abandonada e sem estima.
Mas, não sejamos pessimistas! Mesmo sob as águas de março, aliás, águas de janeiro em meio ao verão; sob o imposto acrescido de 34%; ou, apesar de compactados nos transportes coletivos de manhã e de tarde; ou durante a saga rotineira de cada dia e, após ela, chegar no horário em casa para rever na TV os “melhores momentos” e se ver com olhar crítico de ator que se avalia no vídeo, no espetáculo de os sobreviventes em Sampa nos Datenas da vida.
PARABÉNS TERRA DA GOROA! Que dentre esses homens que entram e saem de ti de quatro em quatro anos surja pelo menos um que lhe veja com dignidade.