AUTORRETRATO
Não me reconheço mais.
Faz já algum tempo que ocorreram algumas mudanças.
Só pude percebê-las quando uma menina me puxou pela alma.
Aos prantos, ela soluçava a meia voz: "você mudou!".
Parei atônita. Reparei então, nos meus modos. Realmente mudados: voz mais pesada e severa, andar ereto, rápido. Passo firme. Olhar muito mais reprovador que inocentador. Mas, ao que parece, mudanças desagradáveis para aquela pequena tão acostumada com meias reprovações, olhares cúmplices, afagos e proteção aos hábitos, às vezes, reprováveis por muitos.
Algumas pessoas dizem que precisamos de uma meia vida para conhecer a si mesmo. Imagina então o meu desafio. Quanto será uma meia vida para eu me reencontrar? Lá se foram mais de 30...
Tem-se vários exemplos de recomeço. Pessoas que retomaram suas vidas, deixaram suas amarras para trás e puseram um pé ante o outro e pimba! Foram adiante. Mas recomeçar não fazia parte dos meus planos. Queria, a esta altura da vida, apenas caminhar de mãos dadas.
Ah! Menina moleca! Saudades de mim.