Pedrinhas de felicidade





Pedrinhas de felicidade


Amigo leitor,a chuvarada passou,restando um cheirinho de terra molhada,o que me motivou a escrever uma cronica do mato.Tenho certeza absoluta que este aroma natural se iguala a do feijãozinho fresco,ou do café recem passado no coador de pano.O leitor deve estar pensando:"Puxa,esse cara vai falar das pedras ou de variedades olfativas?" 
Digo,então,para ter muita calma,pois,quem segredou-me aos ouvidos,não anda muito bem e vive a suspirar ante coisas simples ,escuta os pingos da chuva sobre as telhas de sua casa,dizendo ser música dos querubins rechonchudos  a brincar com os capetinhas emagrecidos...
Andava eu pela rua Heda,sinuosa como cobra amedrontada,onde as hortênsias teimavam em continuar florescendo no outono,numa espécie de alameda celeste.
O campo do Coelho,pequeno logradouro encravado em Friburgo,me proporcionou momentos inesquecíveis,a começar pela lua de mel.Conheci o lendário Laudelino da Silva que transmitia a percepção de uma eternidade em sua origem,ou seja,parecia que ,jamais havia nascido,simplesmente,”era”e convivia entre eucaliptos,sapos e azulões.Quem conhecia o dono do sorriso de lua e pele “da cor de noite sem estrelas”,divertia-se com seu coaxar involuntário,emitido ao contrair o palato com a base da língua.Interessante,que o pobre “afilava” o nariz,embranquecia ao deparar com um simples sapinho...
Certa vez,estava sentado a beira do riacho e o Laude,como costumávamos chamá-lo,disse;”Amigo, a felicidade é como as "pedrinha" do caminho”.Encontramos por descuido,levamos as mãos e arremessamos no rio”...
Imaginei,então,como estaria repleto de ventura aquela ribeira de águas cantantes ,cristalinas.Percebia,então,pela transparência as coloridas,arredondadas pedrinhas que num leito multicor irradiavam qual prismas submersos.
Até aquele instante,não sentia nada,quando uma voz,deveras familiar,disse-me sobre meus ombros:”Abra tuas mãos e tua alma “!
Meu amigo ,o anjo Osvaldo,sentado sobre os galhos do respeitável pinheiro,a tudo assistia.Percebi,então os raios solares alvos sobre as palmas de minhas mãos que ,filtrados entre meus dedos,decompunham naquele efeito prismático...
Com quem estaria a razão?Com o velho Laudelino da Silva ,escutador de chuva ou do serafim aposentado,caído das alturas pelos repetidos descaminhos?
Súbito,uma chuvinha prazenteira de final de tarde,fez o leito do rio estremecer e as grossas nuvens roubaram,por instantes,o brilho do sol.
“Ah!Que as pedrinhas de felicidade deixaram de refletir as alegres cores”! Cada uma fora arremessada em momento de extrema ventura...Serviram,apenas,para este fim...O anjo Osvaldo,sorrindo,sutilmente,para o Laudelino,repetiu:”Abra as tuas mãos e a tua alma”!
Piscando o olhos,feito borboletas,o velho amigo Laude,falou-me;”A felicidade se encontra nos descuidos,não a chute como se pedra fosse”.
Logo,os dois desapareceram sob a neblina que caia e fiquei pensativo...
Retomei a caminhada quando vi,esquecida sob a touceira de margaridas amarelas,aquela pedrinha verde da cor dos olhos de minha amada...