Crônica dedicada à chuva.

Quando caíram as primeiras gotas d'água da chuva em um chão outrora calejado pelas abrasivas intempéries climáticas, a vida se fez renascer subitamente de onde só havia sofrimento e melancolia.

Dissipou-se a morbidez e se fez esverdear a paisagem com inacreditável intensidade e rapidez. As primeiras flores que desabrocharem deram um certo caráter bucólico ao lugar que, de tamanha singeleza, fazia-nos enxergar um párnaso festivo, alegórico e inebriante. Podia ver pequenas abelhinhas sugando-lhes o néctar e polinizando-as com dedicação maternal. Era uma bela tarde perfumada pela fragrância das rosas que exalavam ao meu olfato o amor com que a natureza me dispensava naquele momento.

Notei que havia um pequeno arco-íris emergindo de longas distâncias e que dominava o céu de nuvens entreabertas. Dizia ao meu coração palavras que minha boca jamais conseguiria dizer. Era um espetáculo mágico de cores psicodélicas e intensas que me causavam grande euforia.

Sentei-me ao chão e erigi meus olhares para ele, até que o astro-rei se recolhesse. A chuva voltou a cair e era hora de voltar à minha cabana e preparar o jantar. Ouvi trovões fortes ao chegar no alpendre de minha casa. Raios começavam a riscar o céu, causando-me certo espanto. Já dentro dela, sentei-me ao sofá e pus um disco para tocar em minha vitrola. Adormeci por uma ou duas horas, talvez. Ao acordar, preparei a janta, que consistia em uma modesta sopa de legumes acompanhada de pães e queijo. O clima estava frio e me convidava a dormir, então peguei uns cobertores e me aconcheguei no embalo do barulho da água da chuva sobre o telhado.

Caio Ferro
Enviado por Caio Ferro em 25/01/2014
Reeditado em 26/01/2014
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