GABRIEL E A MULHER DO VAGABUNDO...
 
Quero antecipadamente informar a todos os nossos amigos deste site que o que escrevo não é ficção –procuro desde da década de sessenta,quando fui inoculado pelo vírus “veritatis imprensae”,de um jornalismo puro e autêntico,a partir daí,não fugi da “raia” até agora...mesmo por décadas atrás,sendo delegado de polícia e professor da UNICAMP,esta ultima missão(educar) com muito orgulho e emoção.Ensino superior. “Mosca branca”-delegado de polícia dando aulas na UNICAMP???Extravagância pura e “não tinha nenhuma irmã bonita” como se diz,ainda. Competência!!!
Mesmo como delegado de polícia não conseguia esquecer,ante o fato criminoso ou não,às vêzes até pitoresco,ou tragicômico o lado “como a vida é”,à moda do jornalista Nelson Rodrigues. Para quem não sabe Nelson foi cronista de polícia de jornal do Rio de Janeiro,em priscas épocas e até peça teatral existe com títulos e temas famosos de sua autoria sobre a sociedade carioca e a malandragem nacional. Um jornalista que virou escritor e seus temas foram adaptados ao teatro e aos filmes de grande sucesso.Tudo tirado da vida real!!!
O que vou contar é um fato pitoresco –da vida real-que até hoje brinco com o Gabriel- esse é o nome verdadeiro, de um negrão tão negrão que na contra luz parece azulado e tem uma educação que faria inveja à monarquia francesa do século XVIII,antes da chegada –inesperada e intempestiva- de Napoleão Bonaparte,o corso.Digo corso,porque Napoleão nasceu na Itália,na Córsega,embora hoje seja orgulho dos franceses...Napoleoni virou Napoleon porque foi para a França cursar a Academia Militar. Há anos vi uma gravura de um quadro de autor desconhecido e até hoje não mais vi que se intitulava “Napoleão na Academia Militar”.É um quadro interessante,onde há um grupo de jovens acadêmicos da escola militar fazendo o que hoje nós chamamos de “bullying” à figura e estatura de Bonaparte.Vejam só que ironia da história...Até tu Napoleão fostes vítima de gozação!!??? Aliás,até depois de morto,na Ilha de Elba,os ingleses,sempre os ingleses, insinuavam ao ver o ilustre cadáver ítalo-francês, diziam não tinha muito tamanho e potência... Vejam só... Até depois da morte,ele suportou essa brincadeira de mal gosto... Acho mesmo que tirante “mister Bin”- inglês não tem mesmo graça nenhuma!!!
Voltando,embora não tivesse Gabriel profunda cultura...sua origem é humilde,mas queria(ainda há tempo de) parabenizá-lo por seus genitores ou familiares que burilaram esse Gabriel de forma a dar inveja à qualquer individuo que pensa ser de uma sociedade diferenciada ou superior...Era nosso funcionário emprestado da Prefeitura que trabalhava na delegacia de polícia(estadual) e para mim era quem entregava as “intimações”,quando havia algum fato ou ocorrência que necessitava intimar alguém- minimamente- para prestar “esclarecimentos”...
Pois bem. Chegou ao meu conhecimento que um vigarista e estelionatário havia se instalado na cidade,com mulher, e estava dando “golpes” na praça...alguém me denunciou e tive o dever de intimar esse ilustre desconhecido...
Gabriel de posse de várias intimações foi cumprir a sua diária missão...e,ao tocar a campainha da residência do vigarista e vagabundo- sua mulher ou companheira atendeu Gabriel na porta...  (Ele me disse isso tudo  depois do fato.)
A mulher apareceu diante de Gabriel vestindo uma lingerie transparente,aparecendo uma Venus grega e disse: “meu marido não está...viajou...mas entre,por favor...vamos conversar...”.
Gabriel embora novo na delegacia pois era “emprestado” da Prefeitura já tinha em pouco tempo adquirido a tarimba que a polícia ganha,com os intimados,alguns mal amados,outros abrutalhados,outros simplórios como hoje acreditar em governos e políticos,enfim,já estava, escolado e disse-me depois: minhas pernas começaram a tremer...não sabia o que fazer...entreguei a intimação,com medo que o marido malandro estivesse atrás da porta e tudo o mais...doutor... dei no “pé”...de medo e não entrei não na conversa da mulher...”
Assim foi e demos muita risada pelo ocorrido,já na delegacia,onde Gabriel já não estava “amarelado”,mas tranqüilo- como o chamado- “dever cumprido”.... ( Cá entre nós, essa expressão é um horror).
Hoje,ele já está aposentado da vida pública e é motorista de um deputado federal,que por sinal,pertence a uma dessas correntes evangélicas,que querem mudar a órbita solar,  os fenômenos contemporâneos e a chamada “modernidade” dos costumes. Gabriel não se mete nesses assuntos. Seu negócio é fazer um “extra” na aposentadoria e levar o parlamentar onde ele mandar.Assumidamente,motorista,só motorista.Aliás,Gabriel é nome de um santo,ao que parece...
Encontrei-me casualmente com Gabriel no Fórum e êle não se esquece desse fato... Aí ele me disse: “ doutor... o senhor sabe que a mulher ainda mora por aqui,na cidade... o marido não voltou mais daquela viagem...”.
Ri,com Gabriel,meu amigo,sem moralismo,mas com o riso dos puros e dos piedosos...