Desenho animado
Mal do século, dizem. E deve ser mesmo, pelo tanto de gente dizendo que tem. Mas antes de você eu nunca havia convivido com alguém assim. Por isso que eu ainda não sei lidar com a situação. Verdade que eu não sou nenhum exemplo de alegria, e o mais das vezes estou mesmo pensativo e melancólico. Mas a mim nunca faltou disposição para levantar, sair de casa e trabalhar. Mesmos nos piores dias eu nunca deixei de cumprir os meus compromissos. Não estou cobrando que você seja assim também, apenas explicando que reagimos diferente e que por isso não é má vontade se eu tenho dificuldade para te entender.
Não sou daqueles que acham que é só você querer e decidir para se ver livre do problema. E menos ainda dos que acham que é manha. Admito que eu posso dar essa impressão quando sugiro soluções muito simples para o seu problema, como se fosse besteira sua estar passando por isso. Sei que não é assim e acredito realmente que tenha cogitado por si só todas as soluções que aponto como redentoras, mas que nem por isso funcionaram. Reconheço, enfim, que não é tão fácil quanto eu dou a entender. Mas perceba que eu só ajo assim porque me aflige ver você nesse estado e por isso eu tento dizer que coisas que te animem e façam você voltar a ter alguma esperança.
Também é por isso que tento ser divertido, e acho que não há nada que me faça ser mais falante do que a vontade de animar alguém. De vez em quando arranco um risinho seu, mas é pouco. Eu não sou tão engraçado assim. Bom seria se enquanto a gente assiste TV estivesse passando um desenho animado, daqueles bem antigos e absurdos, cheio de cofres caindo, precipícios que surgem do nada, perseguições que nunca terminam, marteladas, marretadas, machadadas, aquelas coisas violentas que nunca causam mal algum, porque na cena seguinte já está todo mundo refeito. Eu queria que você assistisse a coisas tão improváveis que não houvesse outra saída senão rir. Eu queria que você também não sofresse mal algum.