Aos meus sobrinhos

Aos meus sobrinhos

Se tiver algum ensaio sobre filiação, com certeza é ser tio, dotado de responsabilidades para os seus, que não são tão seus assim, mas tão importantes quanto, parece difícil de explicar, mas ter sobrinhos é ensaiar para a paternidade, tirando o fato que não tem ninguém além de você no seu nome ou dependente no imposto de renda.

O que você faz se torna exemplo, querendo ou não, suas atitudes estão sendo observadas o tempo todo, atentamente, tanto as boas como as ruins e ninguém quer servir de um mau modelo, alguém do qual não se pode admirar e até mesmo se espelhar. Pense no que vai dizer, se seu irmão teve uma criança, tenha certeza que ela te olhará com a mesma admiração que enxerga o seu progenitor e isso já é motivo de sobra para que suas palavras sejam as melhores possíveis.

Eles não se importaram se você é uma pessoa bem sucedida, se tem muitos amigos, se é saúdavel, não fumante, pratica esportes, ganha muito dinheiro ou trabalha tanto que não tem tempo nem para fazer as coisas que gosta. Eles estarão lá querendo que você diga alguma coisa, esperando que você fale como é legal aquele golpe de capoeira novo que aprendeu na escola ou como chuta a bola com efeito para o gol e vão te exigir uma reação e cabe a você decidir que tipo de sobrinho terá, se filhos postiços para a vida toda ou mais um daqueles parentes chatos que todo ano olha para sua cara no natal, te dá três tapinhas nas costas e espera no amago do seu ser que você se exploda nos trezentos e sessenta e quatro dias do ano.

Sou do tipo de tio que estraga, que quer mostrar o outro lado da vida, fora das convencionalidades do óbvio, do tipo que liberta, que mostra que apesar de diferenças, todos nós podemos ser iguais, porque assim mesmo somos, vivemos no mesmo teto, numa casa chamada família, que fica em uma rua chamada amor.

Tenho pena de quem não tem irmão, que não pode experimentar a delicia de ter um filho emprestado, de não ter ninguém para quem mostrar que se pode ser feliz, que nunca se está sozinho, mesmo quando os pais estão longe. Cuidar, proteger, ensinar e aprender.

Aos meus desejos tudo de melhor, que não cometam os mesmos erros que eu, que sejam melhor do que eu, que seus pais e seus avós, que se aceitem, que façam o improvável, que duvidem sempre do impossível (e o tornem possível), que se sobreponham a banalidade e futilidade, que subjulguem a maldade e não importa o que sejam na vida, desde que felizes e com a bondade no coração, sejam livres para serem o que quiserem.

Deangelis Guerreiro
Enviado por Deangelis Guerreiro em 24/01/2014
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