UNICIDADE

O cair da noite era sua hora preferida. Ela se sentava na sacada do seu apartamento, e fixava os olhos muito castanhos no imenso céu que cobria a terra. Não sabia ao certo o que procurava, mas tinha um sentimento nostálgico que fazia seu espírito se perder por entre as estrelas, na imensidão das galáxias. Estranhamente ela gostava de sentir-se assim, profundamente saudosa. O vento que por ali soprava, fazendo sua cabeleira flutuar, deu-lhe a sensação de levitar, de desprender-se de si mesma, de desapegar-se de todas as personas adquiridas pelos anos… E ela gostava desse sentimento. Experimentava sua unicidade de forma a render-se aos mistérios intrínsecos no universo.

Pouco a pouco, fora se misturando à noite, numa monocromia fantástica! Absorta nesse clima de completa liberdade deixou-se levar pela música universal, que lhe era tão familiar. Notou que jamais estaria desamparada nessa jornada interior, onde primava por mais compreensão da vida, testemunhando sua consciência expandir-se numa notável alquimia espiritual. Decidiu então, aceitar as coisas como são, respeitando a evolução e o tempo de cada pessoa que atravessava o seu caminho. Lembrou-se de não sofrer por antecipação, de se entregar aos desígnios divinos que a tudo rege e percebeu que estava renovada. Daquele momento em diante tudo seria harmônico em sua vida, mesmo quando não pudesse alcançar as estrelas.

E Sempre que a noite cai, e a saudade de si mesma aperta, lá vai ela ao encontro de se encontrar.