Sete copos d'água
Está certo que eu gosto de tomar água, ou se não gosto pelo menos tomo bastante, principalmente em oposição a refrigerantes, cervejas e até alguns sucos. Mas mesmo eu achei um exagero ter que tomar sete copos d'água em sequência. Isso deve fazer até mal, de vez em quando sai notícia de alguém que morreu intoxicado de tanta água. Só que este era o único jeito de fazer o exame e, portanto, tive que concordar em encher absurdamente a minha bexiga.
Fiz isso ainda no trabalho, porque precisava de pelo menos uma hora de antecedência. Já faz algum tempo que sou a sensação dos bebedouros, graças a uma garrafinha de água dobrável (a garrafinha, não a água). Normalmente aparece alguém que acha aquilo muito curioso e pergunta do que se trata. Com orgulho explico que é uma garrafa que consigo dobrar e por no bolso – vazia, claro. Cheia, ela para em pé, normalmente. Os mais sofisticados chamam de water bag. Assim eu também evito os copinhos plásticos. Mas àquela hora eu abri mão da garrafinha. Precisava tomar sete copos americanos duplos. Aqueles me pareciam bem brasileiros, mas serviram. Os dois primeiros desceram tranquilamente. O terceiro e o quarto demoraram um pouco mais. Nos copos restantes eu tive a impressão de que iria vomitar água. Por sorte consegui, e tratei de ir logo ao consultório, enquanto o líquido não começava a fazer efeito e eu ainda conseguia caminhar.
Mas valeu a pena. Descobri uma porção de coisas com esse exame. Agora sei, por exemplo, que não apenas tenho um hepatocolédoco dentro de mim como ele inclusive mede 1 mm. Também soube que a minha vesícula, modéstia à parte, possui conteúdo anecóico. E que o meu rim esquerdo mede 111 mm, contra apenas 107 do meu rim direito, o que mostra bem as minhas tendências revolucionárias. Também estou devidamente informado de que o Ducto de Wirsung, provavelmente a parte europeia do meu pâncreas, apresenta calibre normal e linear.
Munido dessas informações, só me restou correr ao banheiro.