Vejo-me no alto da Barrosa
Desde que se criou até morrer, Raposo Marques sempre ouviu dizer que a auto-estima da sua terra estava no alto da Barrosa. Estar no alto da Barrosa ou mais propriamente no pico da Barrosa era estar no Evereste da Ribeira Grande.
Os depoimentos que se seguem dão disso testemunho. Um, a propósito da visita régia em 1901. Cristiano de Jesus Borges, influente clérigo natural da Lagoa, considerou-a ‘(...) a mais importante terra dos Açores e uma das mais importantes do pais (...) que rivalizava ‘(...) com algumas cidades do continente português (…)’.
O mesmo Cristiano, vai ainda mais longe, ao afirmar que a Ribeira Grande, só poderia ‘(...) queixar-se da falta de um porto abrigado; pois que, se o possuísse, era ela que estava destinada de há muito a ser a capital da ilha de S. Miguel’.
Em Abril de 1935, três décadas depois dos textos de Cristiano Borges, Clemente de Mendonça, um continental de visita aos Açores, dizia que a Ribeira Grande parecia ‘(...) mais cidade de que algumas cidades do Continente’.
A geógrafa continental, Raquel Soeiro de Brito, em 1955, afirmava que era ‘a mais importante de São Miguel, tanto pelo número de habitantes como por ser a única que apresenta um ar urbano (….).’
Era pois uma terra que gostava de si. E terra que gostavam dela.
Havia sido inaugurado o Teatro. Estava prestes a chegar o aeródromo (década de quarenta). Com ele a promessa de uma Vila-Cidade/Cidade. Com a sua saída (Agosto de 1969), a auto-estima da terra desceu dos píncaros do pico da Barrosa ao fundo. Ao fundo da baixa Grande que é o ponto mais baixo do mundo da Ribeira Grande.
Mas isso, Raposo Marques já não viu.
Mário Moura