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O SERESTEIRO DUBLADOR
Ysolda Cabral

 
 
 
Ainda não estava pronta para dormir quando, de repente, escutei alguém cantando uma canção desconhecida, porém linda e muito, muito romântica. Não havia acompanhamento, mesmo assim o seresteiro trovador não desafinava e fazia da canção uma maravilhosa declaração de amor jamais por mim ouvida.
 
- Estaria sonhando?
 
Corri para janela do meu quarto. Não havia ninguém! Mas a voz eu continuava a escutar como se ela estivesse bem junto a mim. Deixei-me ficar sonhando ser namorada... E inesquecíveis momentos vivi, sentindo-me perdidamente apaixonada.
 
Sem saber explicar o que acabara de acontecer, comecei a lembrar, com saudades, do tempo em que o homem, para conquistar o coração de uma mulher, enviava-lhe flores e lhe fazia serenata - algumas até encomendadas, quando o enamorado não sabia cantar.
 
Recordo que alguém fez uma serenata para mim, certa ocasião. Fiquei tão feliz, tão encantada que, no dia seguinte, ao receber seu belo ramalhete de rosas vermelhas, acompanhado de um bilhetinho que dizia: "Minha deusa, quer ser minha namorada?", bambeei nas bases! Quase morri de tanta emoção, apesar de não ter gostado muito do ''minha deusa''. Mas tudo bem.
 
Três ou quatro dias depois, ao sair do colégio, desta feita sem a companhia de minha irmã mais velha que adorava tomar conta de mim - e ainda adora - vi que ele estava à minha espera. 
 
- Meu Deus do Céu! Como ele era lindo e como eu tremia de emoção!
 
Veio até mim e bem à minha frente disse: "Minha deusa, posso te acompanhar?"
 
Instantaneamente a tremedeira passou, a lindeza dele sumiu e o amor, que ainda não havia nascido, morreu...
 
Para um seresteiro trovador, ele falava fino demais e era um tremendo gasguito. E o perfume dele,  que o Vento me soprou todo satisfeito e debochado, era terrível!
 
Sem lhe dar resposta, desviei-me dele e segui meu caminho.

Eu, hein! 

 
Recife-PE
Em 22.01.2014
Vendo passarinho
(Em sentido vigurado)