SAUDADES DE MÃE?
Chegou a ser, décadas atrás, o mais antigo vereador paulistano. Ao contrário de seus colegas, não tinha o menor interesse em dar entrevistas à imprensa. E explicava o motivo: “Quem vota em mim não lê. Uns porque não gostam. Outros porque não sabem. Há também quem lê e não entende o que está escrito. É a maioria”.
Mas não era um político desprovido de vaidade, não. Gabava-se de tratar bem seus eleitores, muito embora não fosse homem de dar confiança a ninguém. Gostava de detalhar seu método exitoso nas urnas:
-- Resolvo todos os problemas que posso. Arrumo emprego, internação em hospital, vaga em creche, carta de apresentação, atestado médico, carne pra churrasco... Cimento para laje já arrumei demais. Tijolo e areia também. Muita gente deve o puxadinho a esse vereador. Só não arrumo passagem para o sujeito ir para o Norte, isso não. E sabe por quê? Porque o sujeito vai, diz que volta, mas não volta. Ou só volta depois da eleição. Ora, sou besta de perder, numa tacada só, dinheiro e voto? Digo assim: se está com saudades de mãe, mande mãe vir, com documentos. O título eleitoral fica por minha conta também. Arrumo passagem pra sua velha e resolvo seu problema de saudade.
(www.orlandosilveira1956.blogspot.com.br)