A fé no desconhecido
Muito se ouve pelas ruas a famigerada pergunta: “Você gosta de filmes de terror?”, e as respostas são das mais variadas, tem aqueles que odeiam, e só o pensamento numa “alma penada” já os faz desconfiar de qualquer brisa fagueira pela noite. Outros não, falam que amam, que não vivem sem aquela adrenalina de olhar o relógio na madrugada e ser a mesma hora em que estava marcado para morrer mais um mocinho do filme. E como sempre existem os loucos, há aqueles que simplesmente tem pânico, mas assistem, aqueles sadomasoquistas que gostam de ter medo, ou até mesmo aquelas moças que fingem gostar para no fim cair nos braços de seu amado... Enfim, é fato que, medos provocados ou espontâneos são rotineiros sim, mas o que nos leva a tal varia, sendo uma delas o sobrenatural.
O entretenimento humano passa por níveis opostos que nos fazem presumir que realmente somos bem diferentes daqueles que um dia nos deram origem, uma verdadeira irradiação da espécie. Com isso temos os que curtem as férias num paraíso desconhecido, em que a única luz pós-pôr do sol é a dos vaga-lumes, e voltam a sua rotina queimados do Sol e com histórias a contar... Outros não, preferem sair por parques estrambólicos, esbanjando saúde cardíaca e estômago... Somos mesmo indecifráveis.
Porém existe algo que cativa a atenção de todos, do mais sinistro alpinista ao mais relapso rato da praia, que é o desconhecido, o transcendental, o sobre-humano... Simplesmente existe uma força em nós que nos faz sermos atraídos a aquilo que não podemos fazer, daí pode ter vindo a teoria de que os opostos se atraem, mas somos esquisitos demais para isso...As crianças mesmo quando pequenos, geridos num lar de proteção extrema, presos numa bolha de gostos, quando se depara com jogadores de futebol, bombeiros, astronautas, bailarinas, simplesmente eles saem do normal, e se deparam com tudo aquilo que nunca viram e invejam ser... o desconhecido.
A pergunta que fica é porquê esses superprotegidos animais de apartamentos com grade, essas corujas do 39º andar não temem as contusões, o fogo, o infinito, a queda, e porquê são empiricamente forçados a experimentar tudo isso? É aí que voltamos a atração pelo desconhecido, dessas experiências sim, se retiram lições de pudor, cuidado, e vão se formando novas gerações de engaiolados...
Quem poderá responder o grande apreço da sociedade pelo menino Harry Potter, Percy Jackson, Hobbit, criaturas nem sempre bonitas que enfrentam mirabolantes situações, que deveriam ligar o alerta de perigo, mas não... Atiçam o lado selvagem de nós, nunca podendo nos esquecer de nossas raízes Neandertais. Por fim pergunto que atrativos são vistos em filmes de ação, atos circenses perigosíssimos, nada mais calamitoso que um globo da morte, são vidas em 2 rodas e pouca área para bater...ADRENALINA! Quem criou as crianças fãs do Homem-aranha, quem comprou ingressos para a montanha-russa do Hulk, quem comprou a primeira bola do futuro Neymar..? Os mesmos que mandam não jogar bola no apartamento, os mesmos que não deixam subir nas árvores, os mesmos que vão assistir Atividade Paranormal 4, os mesmos que pagam caro pelo Cirque du Soleil...
Somos mesmo contraditórios, na medida em que cuidamos de uma sociedade que se afaste dos perigos, assistimos esbabacados a nova trama do maior alpinista do mundo, eu proporia uma educação reversa, em que remediássemos menos, deixássemos o espírito aventureiro dos pequenos falar mais alto, para que no futuro não tenhamos que temer o nascimento de um Super Herói em pleno 22º andar.
Gabriel Amorim 22-01-2014