Desejo incontido
O mundo estava cheio de sombras que pareciam crescer e diminuir durante as noites de Aracati, as paredes semelhavam pessoas a espreitar e escutar, mas a beleza das praias superava tudo e meu coração palpitava. De repente, tudo parecia normal, os planetas giravam em torno do Sol, uma aurora despontava no Leste e o pio dos pássaros era cortado pelo grito do galo: A casa onde meu descanso pousava era uma casa de praia de Majorlândia. Lá a solidão imperava, pois a mulher do filho que não sonhei descansou da chatice dos meus olhos pela covardia que neles era evidente. A luz do sol batia no alpendre, reluzindo no piso, os coqueiros balançavam ao vento e a areia voava ao passar dos carros. A manhã despertou como todas as outras e os peixes cheiravam praia afora. O portão estalou e foi aberto pelas mãos companheiras: Chegava o dindim. Três dindins derreteram em golpes largos de uma mandíbula própria e a barriga cresceu.
Meus pés percorreram a praia e o areal recebeu-me luminoso, a água batia na praia e molhava meus pés, mas sem resultados sentimentais, parecia que sentimentos não se encontravam ali, tinha muita água pela frente se a África fosse o alvo, onde um safári aguardava caloroso em sonhos, mas um casal encerrou o sono e a praia estremeceu. A paisagem às costas puxava meus pés, mas estes já tinham ido longe demais. Um morro sucedeu à praia, as dunas ficaram para trás e, embora eu não soubesse nem encontrasse o que procurava, meu destino retornou à casa. O sonhos visitavam meus pensamentos qual bosques de tranquilidade, quando meus pés pisaram o alpendre e as mãos amigas tocaram o celular, minha única companhia, e meus olhos viram a foto do bebê. Era o que meu desejo chorava à procura, em sonhos.