A ESPERANÇA
O que é a esperança? Quando ainda menino, era um gafanhoto verde, comprido, que o povo costumava chamar “mané magro” ou “bicho-do-pau” (está no Dicionários Houaiss). Às vezes, aparecia um no galho de uma goiabeira no quintal lá de casa. Minha mãe dizia ser uma ESPERANÇA, e que, quando ela aparecia assim, era bom, sinal de alguma coisa alvissareira, alguma notícia feliz. Interessante é que eles pousavam sempre num galho esverdeado de uma goiabeira ou outra parecida, num fenômeno de mimetismo que a Natureza usa para protegê-los. Diante disso, eu ia com toda a cautela tentar capturá-lo, prendendo-o entre os dedos pelas compridas perninhas levemente espinhentas. Mas, com pena, logo depois o soltava e ficava aguardando uma notícia ou acontecimento bom, o que não acontecia, ou teria acontecido sem que soubéssemos, pois há situações nas quais Deus nos protege sem que saibamos. Só mais tarde, quando comecei a estudar no Grupo Escolar 30 de Setembro, antiga escola pública estadual há muitos anos fechada, comprava os cadernos escolares e eles traziam as letras dos hinos Nacional e da Bandeira. No primeiro, sua segunda estrofe dizia: “Brasil, um sonho intenso, um raio vívido/ de amor e de esperança à terra desce”. Já o da nossa Bandeira começava assim: “Salve lindo pendão da esperança/ salve símbolo augusto da paz.”
Fiquei sabendo algum tempo depois, quando li nos dicionários, sua definição como significando apenas fé, expectativa, etc. E ainda depois, quando no catecismo, soube que era uma das virtudes teologais: FÉ, ESPERANÇA e CARIDADE. Eram e continuam sendo virtudes que devemos cultuar. Diz o catecismo católico que essas virtudes são incutidas no homem para obter a Graça.
Mais tarde ainda, quando tive acesso a um Dicionário de Filosofia, lá encontrei: “É uma das emoções fundamentais da alma humana.” E manda reportar-nos ao verbete Emoção. Aí a expressão é objeto de inúmeras definições filosóficas.
A palavra esperança também é encontrada na poesia de Mário Quintana, de Carlos Drummond de Andrade, de Clarice Lispector, e outros, inclusive, surpreendentemente, em Augusto dos Anjos, no Soneto ”Esperança”, cujo primeiro quarteto diz: “A Esperança não murcha e não cansa/ Também como ela não sucumbe à crença/ Vão-se sonhos nas asas da descrença/ Voltam sonhos nas asas da Esperança.” Já o Pe. Antônio Tomaz, no seu célebre soneto “Contraste”, canta tristemente: “Quando partimos, no verdor dos anos,/ Da vida pela estrada florescente, / As esperanças vão conosco à frente/ E vão ficando atrás os desenganos” – para, no último terceto, arrematar: “O contrário dos tempos de rapaz:/ - Os desenganos vão conosco à frente/ e as esperanças vão ficando atrás”.
Ter esperança, naturalmente, é ser otimista. Eu, graças a Deus, sempre fui otimista, isto é, sempre fui esperançoso. Quem não o é torna-se uma pessoa ranzinza, que não faz planos na vida, em resumo, não crê que o futuro lhe seja propício. A cor da esperança é a verde, o que faz sentido, já que no nosso inverno, a estação das chuvas no Nordeste, a vegetação é verde, os campos são verdes, e constituem promessa de fartura para o sertanejo.
A caatinga do Nordeste tem sido objeto de estudo por técnicos especializados, pois ela é formada pelo juremal que, nos anos secos, sem qualquer chuva - o que frequentemente ocorre no Nordeste - os pés de jurema ficam completamente despidos de folhagem, parecendo definitivamente mortos. Dá uma pena passarmos nas estradas e contemplar, em certas regiões, aquele drama constrangedor, de uma visão desoladora, sobrevivendo aqui e acolá um pé de oiticica, do chamado icó-preto e principalmente do juazeiro, a exibirem a sua copa verde como sinal de resistência. Noutras regiões sobrevivem as carnaubeiras, já noutras o umbuzeiro. (Quando morei em Caruaru, zona agreste de Pernambuco, saboreei várias vezes uma gostosa umbuzada na fazenda do meu saudoso amigo Arlindo Porto). Em todo o solo do nosso semiárido encontram-se as cactáceas de diversas espécies, uma delas o mandacaru que, segundo Luiz Gonzaga em seu famoso xote, canta: “quando “fulora” na seca é sinal de que a chuva chega no sertão.” Entretanto, quando caem as primeiras chuvas, prenunciadoras de um bonançoso inverno, não é só a alma do sertanejo que reverdece, é aquele juremal, que aguentou firme os anos sem a necessária água, guardando em suas raízes a seiva da esperança nas chuvas. Cabe aqui ressaltar que, entre as várias espécies de cactáceas, sobressai-se a palma, que, se devidamente disseminada no Nordeste, seria uma importante base de alimentação animal, assim como poderia ser, se as autoridades lhe dedicassem maior atenção, uma especial forma de matar a fome do sertanejo, consoante importante estudo coordenado pela Dra. Poliana Souza de Queiroz Lopes em livro sob o título de “PALMA – Ouro Verde do Semiárido”.
Volto ao tema que encima esta crônica para dizer que o homem sem esperança é um homem sem fé. Quando lhe batem as intempéries e não guarda em seu coração essa chama, é um homem vencido. Sendo a esperança uma emoção que é própria do homem é, pois, sinônimo de fé; por isso, a expressão esperança é citada na Bíblia mais de oitenta vezes.
Seja você, meu amigo, um homem de fé; não perca jamais a esperança no poder de Deus e em sua misericórdia. Sua alma seja como uma jurema: enfrente as vicissitudes guardando na alma a Fé que um dia o rejuvenescerá e dará vigor.
Natal, 04.janeiro.2014