NA PALAVRA É QUE VOU... * Falando de Carnaval...
Qualquer pessoa só se levanta depois de cair. Esta verdade, dita de La Palisse, é frequentemente esquecida pelos incautos e desprezada pela jactância militante.
Situações há em que da queda não se levanta, carecendo do auxílio alheio.
Verdade verdadinha que quase todos nós já demos uma queda e dela nos levantámos ou fomos levantados. Pois é, como diz o rifão, «Quem anda à chuva, molha-se…»
Às vezes, por uma boa causa, arriscamos a intempérie. Aí, a molha vale como sacrifício recompensado.
Ah, mas outras vezes, arriscamos a intempérie por algo que não vale o sacrifício. E, aí, ganhamos a molha e, não raro, uma constipação. Nestes momentos, vale a sabedoria que conheço desde criança: «Deus manda ser bom, mas não manda ser parvo.»
Nem sempre discernimos a boa causa do logro. A sedução da boa causa leva o logro a vestir as roupagens da boa causa e é nessas situações que claudica o discernimento. Que fazer? É da humana condição a cedência à sedução, seja genuína, seja uma mascarada perversa.
Meditar nestas coisas vulgares do quotidiano é um exercício prudente e ensina-nos que todo o carnaval tem a sua quarta-feira de cinzas.
A quarta-feira de cinzas é, como sabemos, o primeiro dia da Quaresma, dia que simboliza o dever da conversão, logo a alteração da vida descuidada, etc.
Este carnaval que vivemos e consentimos terá a sua quarta-feira de cinzas. Uns vão na leva, outros ficam-se olhando o desfile, esperando nem eles saberão exactamente o quê. E assim, crédulos e incrédulos, olhamos a comédia a que assistimos e que simultaneamente representamos.
José-Augusto de Carvalho
19 de Janeiro de 2014.
Viana*Évora*Portugal