Deixe-me caminhar na praia lentamente...
Deixe-me ser o que quero. Errar, acertar. Acertar e errar. Deixe-me caminhar na praia lentamente, pensando nas areias que cintilam me sentindo ali eterno... Deixe-me caminhar amassando as folhas secas de um bosque qualquer. Deixe-me expressar. Escrever meus devaneios, ler o que é científico, artístico, religioso, o que é exato, perene, solene... Deixe-me desacreditar nos outros, em mim mesmo... Deixe-me desdizer o que disse antes... Deixe-me ser tão naturalmente... contraditório. Deixe-me voar alto, correr de pés no chão – baixo... ir, vir, ficar, viver no mínimo – mais um dia aqui deitado em minha rede vendo um lago calmo com meu suco de caju ao lado – de preferência – gelado! tomado adoçado com dignidade... Deixe-me mentir minha idade, meus sonhos... Deixe-me fazê-los motivos para viver enxergando o doce que habita a cada tilintar do relógio que vive pendurado ao alto da matriz... e que controla os sinos que avisam algo maior que cerca nossos dias... quem sabe seu sentido. Deixe-me sozinho no meio desta multidão de solitários... Deixe-me ter medo de raios... E viver boa parte de meus dias tentando superar tal medo... Deixe-me mais um dia enganar – com uma rima-clichê – meu coração... Deixe-me pensar que o amor entre homem e mulher - seja mais que um impulso de procriação a melhorar a espécie, assim entendido pelos ouvidos de minha ignorância... Deixe-me saber omitir-me na hora certa, a não desmentir a verdade criada e necessária, para que em algumas situações haja paz... Deixe-me buscar a Arte, fazer Arte e descobrir a cada amanhecer o contraditório daquilo que engana a cada Ser em sua originalidade assim ser... Amém!
Marcio J. de Lima