Segunda Vez

Tamiris ficou grávida pela segunda vez.

“Na primeira foi descuido, agora foi o quê?”, cochicham na rua que ela mora. A mãe está inconformada – “A minha menina só tem 18 anos” – chora pelos quatro cantos. Lamentando pela menina que mal acabou o 2º grau e trocou o cursinho universitário pelo supletivo maternal.

Tamiris chorou dia e noite, noite e dia; o pequeno Gabriel de dois anos, não entendia porque a mãe estava tão triste e triste ficava.

Todo mundo apontava o dedo, toda a família reclamava, comentava e julgava.

Esses dias o celular tocou, Tamiris pensou duas vezes antes de atender, tudo que menos precisava era outro amigo chorão, outro parente discriminando; mas era a sua irmã que morava além do mar:

“Oi maninha – disse a irmã – liguei para te parabenizar e dizer que você pode contar comigo para o que você precisar.”

Os parentes se revoltaram – “Não é hora de parabéns, é hora de enfiar juízo nessa menina” – diziam pelos cantos. A irmã, anos luz de discernimento e lucidez, sabia que cada um de nós tem a sua história pessoal e não precisamos de ninguém tornando ainda mais pesada a cruz que carregamos.

Tamiris está mais calma e já contou a Gabriel que em breve, ele ganhará um irmãozinho. A mãe ainda chora pelos cantos, mesmo sabendo que em um mundo onde há mais clínica de aborto do que padaria, é necessário ter muita coragem para ser mãe antes do tempo que os outros julguem ser o mais correto.