A Noiva
Quando nosso carro parou no sinal, eu, no banco de trás, num correr de olhos à minha volta, percebi que o carro ao lado levava uma noiva no banco de trás, acompanhada, é claro, pelo seu respectivo noivo.
Fiquei tão feliz ao vê-los, ali, juntinhos, tão jovens, aquelas carinhas tão alegres por estarem finalmente unidos para sempre; pelo menos até aquele momento eu os desejei paz e muito amor, só até aquele momento.
Depois que o sinal abriu, os carros foram saindo devagar em sua marcha, impávidos, o carro da noiva foi passando o nosso lentamente. No momento em que nossas janelas estavam lado a lado, o noivo me viu, sorriu, com aquela cara de bobo que todo homem faz quando fica alegre perto de uma mulher. Ele chamou a atenção da companheira para que ela me visse também. No momento em que a alva criatura olhou para mim, ainda havia uma réstia de sorriso em seus lábios, depois o sorriso desconcertou-se tenebrosamente, como aquele som de agulha de toca discos de vinil riscando as linhas paralelas. Quando dei por mim, ela me mostrava o dedo médio com toda a brutalidade deste gesto tão bárbaro. O noivo continuou olhando para mim com cara de bobo.
Nossos carros se desencontraram. O ponto de interrogação ficou na cabeça.