Japão, via Saturno

Quando voltei de viagem, uma encomenda me aguardava. Era praticamente uma biblioteca, tantos foram os livros enviados pela escritora Madô Martins – que fontes seguras me afirmam ser a pessoa mais carismática de Santos, e não tem Pelé que a desbanque. Um dos livros que me enviou era “Três meses no Japão”, com o relato dos tempos em que passou naquele país. Enquanto eu lia me ocorreu que eu não conheço nada da cultura japonesa. O mais próximo que cheguei disso foi quando entrevistei Cláudio Seto, o precursor do mangá no Brasil.

Ainda eram os tempos da faculdade e nós queríamos que ele comprovasse que existem mensagens subliminares nos quadrinhos. Liguei para ele marcando a entrevista e tive a nítida impressão de que, se eu pedisse para ele vir à minha casa ser entrevistado, ele viria. Mas fomos nós até ele, e pegamos um ônibus chamado Saturno, o que dá uma ideia da distância. Quando chegamos achamos o muro de sua casa tão simples que pensamos ser um depósito. Fomos bem recebidos por sua família e conduzidos a uma sala externa repleta de bonsais. Ganhamos deliciosas comidas e bebidas ocidentais e esperamos o homem chegar.

Seto veio e, com muita paciência, nos mostrou o óbvio, ou seja, que o leitor de quadrinhos não é tão inocente assim. Contou algumas histórias do tempo da ditadura e de vez em quando desenhava na própria mesa, coberta de papel, para que entendêssemos melhor. Às vezes éramos interrompidos por gente que queria comprar os seus bonsais. Nós nada entendíamos de árvores em miniatura e fizemos algumas perguntas, naturalmente estúpidas.

Quando terminamos, Seto disse que tinha muitas entrevistas dele na Internet e que a gente poderia usar as mesmas respostas, caso precisasse. Deu-nos algumas revistas de mitologia japonesa e ofereceu-nos uma carona ao centro. O carro estava cheio de papéis espalhados, coisa que um ocidental poderia chamar de bagunça. Mas fiquei com a impressão de que em termos de vaidade era ele quem tinha razão.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 20/01/2014
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