CORTANDO O CORDÃO UMBILICAL
Desloquei-me de Londrina a Curitiba, para participar da cerimônia de casamento de meu filho. Hospedei-me em um hotel no centro da cidade, alguns dias antes do evento, já que tinha a intenção de colaborar nos preparativos da festa. Na chegada, percebi que pouco ajudaria, pois tudo fora organizado previamente, de forma muito cuidadosa, pelos noivos.
Senti aquela pequena frustração de mãe que quer ser útil e percebe que não é tão imprescindível como imaginara. De certa forma, sorte minha. Restou-me descansar no hotel, em férias.
No dia do casamento, pela manhã, levada pela curiosidade, saí pelas ruas com o intuito de conhecer as redondezas.
Havia visto um sebo (maravilha das maravilhas), bem em frente ao local em que me hospedara, todavia deixei-o para ser visitado por último, pois, conhecendo-me como conheço, sabia que ali me demoraria.
Rodei os quarteirões em torno e avistei, ao longe, a torre de uma igreja e para lá me dirigi. Confesso que me deslumbrei com a beleza daquela nave, que me fazia pensar em um pedaço do céu.
Santos e Anjos Bons pareciam ali me aguardar. Havia paz no ambiente e Luz. Ajoelhei-me e me pus em preces pedindo Bênçãos Divinas para a união de meu filho e minha futura nora e para o lar que começava a germinar. Sob o Divino Espírito Santo, curvei a fronte e implorei Sua presença na família.
Saí do santo lugar e, no caminho de volta, estiquei os olhos às novidades expostas em vitrines e observei os transeuntes correndo atrás dos seus destinos.
Finalmente, cheguei ao sebo, o meu sonho de consumo. Tanta coisa boa ali dentro e, imediatamente, voltei o pensamento ao filho que hoje se casa. Lembrei-me de que ele me disse um dia: “ah, mãe, eu gosto muito do cheiro dos livros. Sejam eles novos ou antigos, têm um cheiro tão bom no papel, que chegam a me emocionar.”
Ali, o aroma era de coisa antiga, circulando entre estantes, parei por algum tempo defronte às biografias e me esqueci de mim ali parada. Estacionada. Estacada. Plantada. Então, voltei no tempo e vi a minha biografia. Nela, um cordão umbilical que hoje cortamos, o meu filho e eu. Percebi ser linda a nossa biografia, com aroma de livros que nos contaram grandes e belas histórias.
Perfumada de livros, saí de lá com Cecília Meireles, Rubem Fonseca, Gabriel García Márquez e um CD acústico de Gal Costa, 1997, na sacola. Este, para presentear minha filha. “Baby I love you. Comigo vai tudo azul, contigo vai tudo em paz... I’m wandering round and round, now here to go I’m lonely... *
Assim, caminhamos.
Dalva Molina Mansano
• Trechos de músicas de Caetano Veloso.