AMIGO LULA – ENCONTRO INUSITADO EM SAMPA
O nome dele de batismo é Luiz Braga, mas desde a mais tenra idade era conhecido como Lula. Corintiano fanático, filho de José Braga (Zè Braga) como era conhecido, também um corintiano apaixonado, que até 1977 de fato tinha sofrido com a longa fila do seu time, de quase vinte e três anos.
O meu amigo Lula era daquelas pessoas que todos acabavam gostando delas . Lula tinha um jeito de ser quer no jogo de futebol( era grosso pra caramba) nas rodinhas de bate papos no Jardim jacaré, na escola, no Mercadão Municipal da cidade onde trabalhávamos , ele na venda do pai dele e eu na venda de dona Lindaura e quando dava , fugíamos para conversar com os filhos do Doca, na barraca onde trabalhava o Sonélio, do lado de fora, na venda do Salvador para ouvirmos piadas, na venda do Netinho, onde falávamos de futebol.
Em uma dessas tardes ensolaradas em São Paulo, em pleno domingo de futebol, saio da zona sul e vou para o Palestra Itália assistir a um jogo do Palmeiras, que é o meu time de coração, quando ainda se podia ir aos estádios sem correr riscos de violências.
Ao chegar na bilheteria, situada na Avenida Francisco Matarazzo, compro o meu ingresso de numerada inferior, passo pela revista corriqueira da PM e ao adentrar os portões que dão acesso às catracas, quem vejo vestido de guarda com uniforme do Palmeiras? O meu amigo e conterrâneo Lula.
- Você aqui! Exclamei. Um corintiano trabalhando no campo do Palmeiras! Falei surpreso pelo encontro inusitado.
- Não espalha meu! Foi o único emprego que consegui arranjar! Respondeu Lula- Eu moro aqui do lado na Carlos Vicari. Depois do jogo passa lá para tomarmos uma geladinha. O Sonélio mora lá também. Completou.
- Passe o endereço, pedi.
- Não precisa, é só atravessar o viaduto Pompeia e você verá um monte de barracos, os únicos da rua. Não tem erro! É só perguntar pelo Lula baiano.
Assim que o jogo acabou, o Lula e eu, ele fardado com o uniforme do Palmeiras de segurança, fomos para o cortiço encontrar com o Sonélio e lá matamos a saudade molhando as palavras com cerveja geladinha.
Esta não foi a única coincidência nesta terra de muita gente apressada. Certa vez eu tive que ir do CTO, que ficava na Avenida do Estado, para a agência central do Banco, onde trabalhava, que ficava na Rua Boa Vista e ao passar pela portaria, quem estava lá, fardado de guarda de segurança? O meu amigo de infância Irineu, que dias mais tarde voltou para Santa Maria e montou um bar na beira do majestoso Rio Corrente.
Nesta Pauliceia desvairada cheia de contrastes tem muitos paradoxos, onde o esperado torna se quase impossível, e o inusitado torna se algo surpreendente e engraçado. Por exemplo: Lúcio Almeida, filho de Josael, trabalhava no mesmo prédio que eu na Avenida do Estado, ele no nono andar e eu no segundo. Só nos encontramos duas vezes e na fila do ônibus que fazia o transporte de funcionários. O refeitório era o mesmo, a biblioteca era a mesma, a lanchonete era a mesma, as áreas de descanso eram as mesmas, mas dificilmente a gente se encontrava. É a chamada diferença de horários e em um prédio com dez mil funcionários fazendo diversos turnos, é mais difícil encontrar um amigo! E no estádio? Já pensou, aqui em São Paulo você encontrar um corintiano, conterrâneo, amigo de infância , como porteiro do estádio do Palmeiras, o maior rival do seu clube de coração, o Corintians e ou na central da empresa onde você trabalha?
É isso !!!!!