EDUQUEMOS NOSSOS JOVENS
Há um intenso clamor popular no Brasil em favor da alteração da maioridade penal no Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, em virtude do brusco aumento da violência a nível nacional motivado pela entrada de jovens no maldito mundo do crime. Os que defendem essa premissa apresentam os mais polêmicos e, decerto, impensados argumentos e procuram se basear também em leis e fatos da espécie que tratam de forma diferente os menores protagonistas de atos criminosos, pondo-os em prisões já tão abarrotadas de meliantes perigosos que, por óbvio, serão professores a ensiná-los, pelo caminho mais difícil, os horrores da criminalidade superior à por eles praticada.
Há que se repensar, com a devida urgência e ânimos arrefecidos, sem qualquer nuvem negra de precipitação ou arroubos indesejáveis, esse pensamento de quase perceptível vingança dos defensores de mudanças e transformações de tamanha envergadura e inegáveis consequências inusitadas na vida de nossa juventude. E até mesmo, claro, de nossa sociedade. Por essa e tantas outras razões plausíveis, não é de bom alvitre anelar mutações repentinas e bruscas sem o brilho suave das ponderações. O momento, evidentemente, é de refletir, dialogar e discutir de maneira amadurecida e com a mais absoluta serenidade a respeito do assunto. A priori, não é possível nem de bom tom comparar comportamentos e atitudes de nosso povo alegre, brincalhão, miscigenado e transbordando de culturas diferentes nas regiões brasileiras. Além do mais, necessário cogitar sobretudo que o Brasil é um País de proporções continentais e cada ação a ser tentada precisa passar pelo crivo do planejamento e das reflexões.
Por que nossos jovens cometem delinquências, assaltam, assassinam e roubam? Seria tão-somente em virtude de má índole? Poder-se-a ser tão simplório e inconsequente a ponto de pensar assim, sem uma análise mais acurada? Alguns questionamentos ressurgem no espaço das considerações a serem estudadas: o que realmente estaria, se perscrutarmos com mais profundidade, por trás de toda essa violência grassando assustadoramente em nossas vidas feito rastro de pólvora? Os jovens são maus simplesmente por farra, por saberem inimputáveis a nível de sanções penais? Eles querem se marginalizar apenas para ter uma vida amaldiçoada, intranquila e sem futuro? Não haveria nos bastidores dessas questões pontos muito além de nossa vã perspectiva? A educação brasileira tem nível suficiente à altura da globalização? Nossos professores estão sendo remunerados adequadamente para valorizar a própria profissão? A sociedade brasileira orienta e educa seus jovens com precisão, acerto, acuidade e, muito além disso, respeito?
Parece que os defensores da alteração da maioridade penal anseiam pelo abarrotamento dos presídios e, via de consequência, pela construção de muitos e muitos outros para abrigar esses jovens que a sociedade marginalizou e não soube como educar. É imprescindível um país com mais cárceres cheios de jovens perdidos em si mesmos e pela falta de cuidado das autoridades competentes, e até mesmo, também, da família que não está cumprindo devidamente seu papel, ou sonhamos com um Brasil onde sejam edificadas mais escolas do que cadeias?
Não vai ser prendendo e encarcerando jovens imberbes juntamente com criminosos brutais e cruéis, de alta periculosidade, que poremos um fim na violência urbana e suburbana. Escorraçá-los é sombrear o futuro da Nação, é mancharmos o amanhã com o lixo da impropriedade. Melhor que tudo isso é proporcionar-lhes uma educação escolar e universitária com mais vislumbres, abrir postos de emprego, garantir empregabilidade através de cursos, avaliações e treinamentos, criar condições amplas e completas para que a sociedade civil possa conceder-lhes possibilidades inesgotáveis, caminhos e estradas por onde possam caminhar e sonhar. Sim, sonhar, pois quem não se deleita nos sonhos vive somente o momento e esquece do porvir. Então, se e quando isso acontece, já não existirá motivo para crescer, subir de nível social, buscar novos horizontes, combater o bom combate por seus devaneios.
Por esse ângulo do discurso, contrapondo nossos ideais ponderadores com a sanha de mudanças no Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA desejadas por tantos País inteiro afora, concluímos ser de suma importância se delinear o diálogo a respeito dessa problemática da violência causada por tantos jovens. Que prevaleça sempre o bom senso e não sejam tomadas providências inadequadas e irresponsáveis capazes, isso sim, de piorar ainda mais a situação da juventude. Diminuir a maioridade penal certamente não é a solução mais viável, tal premissa apenas incharia os presídios e não reeducaria adolescentes marginais. Pelo contrário, os tornaria ainda mais perigosos e animalescos, inúteis para o futuro da Nação.