Folhas ao vento

Literatura me encanta. Conversar sobre livros me eleva, me leva. É como se o tempo não existisse, porque é a vida sendo – simplesmente sendo –, sem artifícios, sem disfarces, em perfeita harmonia com o ser.

Ler, escrever, ocupar-me de livros e autores... Viver disso é o meu sonho.

Por enquanto não passo de um marginal esporádico, de um tímido ousado que, quase todos os dias, em fragmentos de tempo cada vez mais difíceis de arranjar, escapa do circuito extenuante da vida útil – onde se ganha dinheiro – para escrever contos e crônicas sem a menor pretensão, para ler e divulgar o que lê... A troco de quê? De viver. De ar puro revolto soprando nos campos, árvores e montanhas, e eu, de braços abertos, sentindo o vento em meu corpo, deixando-me ser... Quer coisa melhor? VIVER...

Minhas escapadas literárias alimentam uma das chamas mais preciosas da minha vida interior; mas meu sonho é que elas deixem de ser escapadas e se tornem a maior parte da minha vida, o meu trabalho – que para mim não seria sacrifício, mas prazer.

Ontem conversamos sobre isso, eu e meus amigos Júlio, Ana Cláudia e Ana Terra, observados discretamente pela cachorrinha Lua, que aos poucos se apaga, devido a uma doença nos rins – seu ser pequeno, sua vida que é pura vida se fazendo, sendo –, ela lentamente se vai... como todos nós... cada um no seu tempo, a seu modo.

Mas a sensação humana, às vezes angustiante, de caminharmos sob o látego do tempo em direção à morte não existe quando estamos fazendo o que nos dá prazer – não aquele prazer falso, criado sob pressão, que é muito mais aceitação do que prazer, mas PRAZER –, porque nessas horas de autêntico júbilo, o que conta é o instante-já, o gozo da vida que é, que está sendo.

Foi o que eu senti ontem, durante nossa longa conversa sobre livros e escritores, sobre viver e morrer. De mãos dadas, VIVENDO cada instante, sonhamos (porque sonhar pode)... Uma livraria-café, um livro juntos, uma leitura de textos de Clarice com música... E o tempo parecia não existir...

Café forte, delicioso... Braços abertos... Folhas ao vento...

Como é bom me sentir acolhido, entendido... ser o que sou... livre... leve...

Falar de literatura com quem ama literatura e te entende e te aceita não tem preço.

Amigos, gosto muito de vocês, de coração.

Obrigado, obrigado, obrigado, obrigado.

Flávio Marcus da Silva
Enviado por Flávio Marcus da Silva em 18/01/2014
Código do texto: T4654650
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