MORRER POR AMOR
 
               Morrer por amor! Não, esquece, jamais te pediria isso. Morre-se por desamor, por abandono, por desilusão extremada, por absoluta ausência de auto-estima, pela dor absurda de uma perda e outras tantas razões que os suicidas encontram para desistir da vida.
            Mas morrer por amor parece algo nobre, sugere uma experiência anterior de tamanha importância, que, perdida, todo o resto deixa de ter qualquer significado.
            Morrer por amor, simples assim. Toda vida acontecendo de uma forma perfeita e, de repente, o aviso de que o amor deve acabar!
            Mas o amor está dentro de ti e se ele acabar, tudo o que restar será um vazio, uma absoluta escuridão silenciosa!
            Mas o amor não morreu! O que desapareceu foi o objeto do amor, a tela de cinema onde a história da tua vida estava projetada. A luz se apaga. Agora és tu sentado diante de uma tela escura, num cinema vazio, com um saco de pipoca cheio e um refrigerante que está esquentando e ficando sem gás.
            Restam as discretas luzes dos degraus da escada que aponta para a placa de saída.
            Lembras do jornal com a notícia de um Zé qualquer que matou a mulher e os dois filhos por não aceitar a separação. Lembras da amiga que se suicidou. Lembras dos famigerados da Somália e do Haiti. Lembras do calor do leite materno chegando no estômago e o alívio de se sentir banhado numa água morna.  Lembras o sorriso da primeira amada.
            Joga fora pacote de pipocas, desce as escadas iluminadas do cinema e vai em busca de uma outra razão para morrer.
                    Ou, quem sabe, viver.
Nelson Eduardo Klafke
Enviado por Nelson Eduardo Klafke em 17/01/2014
Código do texto: T4654064
Classificação de conteúdo: seguro