A Visita

Decidi: “vou lá, afinal há dois eventos que me fazem bem em um único espaço!"

Fui.

Cheguei.

Entrei furtivamente como sempre gosto da fazer: quase um rato, ou gato, ou fantasma.

Pensando bem, rato não. Alguém pode pensar que fui para roubar. Não é isto. Um gato? Também não. Por mais imperceptível que seja um gato sempre dá um miado se anunciando, um ronronado de agradecimento ou um incômodo esfregão na perna de quem ele quer que o veja. Um fantasma, então! Não, não seria o caso.

Fui.

Observei.

Conhecido havia poucos. A maioria eram estranhos.

Alguém me viu e veio me cumprimentar. Fez comentário indevido sobre o que queria me mostrar como seu. Achei mesmo que o quê desejava era uma palavra de elogio. Não falei nada. Vi outra pessoa e eu quis ser visto. Fiz questão do cumprimento.

Fiquei.

Observei. Vi. Admirei. O crítico dentro de mim se manifestou. Aquietei-o e o fiz sossegar. Eu era apenas eu mesmo disfarçado de rato... Não, de gato... Não, de um fantasma... Uma sombra.

Ouvi as conversas em grupos. Eu era o rato, o gato, o fantasma... A sombra. Divertido como as pessoas se comportam em eventos assim: se acham “expert”, cultas... Esnobes. Fachadas. São só fachadas que mostram. Cada qual querendo o seu lugar ou o seu bocado de atenção.

- ...toma-se chá. É verdade! Lá é habitual tomar chá. Há um bar em Londres que o chá é servido...

Balela! É coisa corriqueira que se sabe sobre o chá e os ingleses.

Eu saí à francesa e deixei o outro evento prá lá.

Fui.

Fui dar uma volta pela cidade.

Acabei me comportando como gato. Cumprimentei quem eu queria para eu ser visto. Agi sinistramente como um fantasma... Eu estava ali vendo e ouvindo como se fosse de outra dimensão.

Tornei-me um rato. Roubei inspiração para escrever este texto para satisfazer esta necessidade de escrever, escrever, escrever...

Queria escrever sobre outra coisa, mas foi só o que consegui com minha visita de beija-flor... Rato... Gato... Fantasma.

Leonardo Lisbôa

Barbacena, 17/01/2014.