ARTE INDÍGENA
A imensa diversidade sociocultural do Brasil é acompanhada de uma extraordinária diversidade de civilizações. As múltiplas etnias indígenas, cada uma delas com formas próprias, presenças em seus respectivos ambientes geográficos, oferecendo as suas múltiplas características.
Apesar das teses que apontam para um caminho inexorável de perda cultural dos povos indígenas, tem-se vários fatores para afirmar que, os povos indígenas, de modo particular os que vivem na região Norte, continuam sim lutando por sua cultura e uma das formas de luta está presente na ARTE INDÍGENA como elemento de comunicação, uma forma de expressar o que sente e o que pensa, o que vive, através da música, da dança, das plumagens, dos adornos, das pinturas no corpo, da confecção de instrumentos musicais, das pinturas em tela e trabalhos em madeira, unindo a arte literária como a poesia e produções de audiovisual e livros publicados.
A arte e cultura indígena, estão presentes em cada canto, em cada atitude, está relacionada com o cotidiano das pessoas. E dentro da questão indígena, ela é logo percebida, na forma de vestir-se, na pintura corporal, nas danças ritualísticas, na música que traz uma mensagem de valorização e respeito a cultura, a natureza, relacionada com a vivência, com a mitologia, com a crença e com a pajelança. A música se une a dança, e normalmente são as mulheres que buscam criar e recriar a cultura através da dança e da música. Essa ARTE INDÍGENA desde séculos passados (XVI, XVII, XVIII), vem aguçando a curiosidade de vários pesquisadores não indígenas, em especial os primeiros que aportaram em terras indígenas. Os objetos construídos pelos povos indígenas como arco, flecha, potes de cerâmica com desenhos grafados, as redes que serviam para o descanso, a confecção de suas vestimentas, a construção de objetos utilizando elementos da natureza, tudo era motivo de curiosidade pelos que chegavam no território habitado pelos povos indígenas.
A beleza da arte indígena reside na importância da representação manifestada através da força e da conexão com o universo mítico e espiritual. A pintura corporal utilizando elementos da natureza como as tintas dela extraída, as formas dos grafismos tem seu significado, tem sua importância dentro da vivência dos povos indígenas e marcam uma identidade étnica. Cada povo tem sua forma de explicar, de representar. Para alguns povos da Amazônia foi o homem-lagarto e a cobra-grande que lhes forneceram os desenhos e cores de modo particular o preto e o vermelho. Aliás, prova da superioridade do homem sobre o bicho é que cada bicho possui uma única “pele”, enquanto ao se pintar o homem pode utilizar várias “peles”. o pontilhado imita as malhas da onça e representa o domínio sobre a Natureza; o triângulo é a borboleta e remete ao mundo espiritual; e o listrado é uma alusão à cobra-grande e ao sobrenatural. Para o povo Kambeba de modo particular, o (- - - ) traço representa água da qual o povo surgiu.
O grafismo que traz esse formato de (w) representa asas de borboleta e significa evolução, outros representam continuidade, união, etc. Para alguns povos indígenas do Pará, por exemplo, a pintura corporal significava na sabedoria dos mais velhos uma forma de se livrar dos animais ferozes como cobra-grande, sapo-grande, a pintura corporal com jenipapo enganava o olfato deles, para outros era uma forma de evitar que se tornassem espíritos maus.
A palavra é para os povos indígenas um objeto de arte, por ela se pode expressar sentimentos, ensinamentos, conhecimentos milenares, expresso no canto, nas histórias, escritas em papel, tido como uma forma de registro para as presentes e futuras gerações. A poesia entra nesse contexto como arte e uma forma de levar a mensagem dos povos indígenas através da poesia, da literatura. Mostrar nossa forma de pensar o universo indígena hoje, de mostrar por exemplo em forma de poema porque não gostamos e não aceitamos ser chamados de “índios”, tudo isso pode ser mostrado usando a arte da poesia. Com a poesia podemos mostrar o pensamento de uma coletividade, de um povo que luta por respeito a sua cultura, com dignidade. Assim como a música e a dança, a poesia também comunica, denúncia e anuncia uma nova geração que luta não mais com arco e flecha, mas que traz na palavra sua maior arma para uma luta política com argumentos bem consistentes.
E é com esse intuito que meu livro Ay Kakyri Tama que significa Eu moro na cidade vem apresentar ao leitor, fatos e vivências de um povo que há tempos foi dado como extintos pelos registros da história. Mostramos através da poesia que esse povo se mantêm vivo, lutando com todas as forças para mostrar sua cultura, sua ancestralidade, trabalhando nas crianças o orgulho de ser indígena, de ser Kambeba. Mostramos através de poemas a importância da afirmação na vida de um indivíduo Kambeba, Kokama, Guarani, etc., construindo sua identidade, sua territorialidade com base em conhecimentos por anos repassados. A arte indígena depende do olhar e da interpretação de cada um, envolvendo a cultura material e imaterial dos povos da AMAZÔNIA, dos povos do BRASIL.