Eu poderia estar roubando...
Galera dessa Faces & Bocas, eu poderia estar roubando... eu poderia estar matando... eu poderia estar no Planalto Central do País ejaculando indigências, mas não! Estou aqui, diante desse portal, tentando provar pra vocês que a menor distância entre dois pontos é a palavra, e esse tem sido o meu sacerdócio, o de escrever ruas, avenidas, cidades inteiras, países continentes... amalgamados por simples palavras.
Aquele menino que outro dia entrou no ônibus que eu pegava, iniciou o seu discurso mercadológico assim: “eu poderia estar roubando...” – Me dá um chiclete, menino, - só consegui dizer isso, mas já foi muita coisa; o menino riu pra mim com cara de feliz e nós conversamos, naquele instante eterno, sobre tratados internacionais de literatura, a rotina das formigas, esclerose dos paquidermes, sobre nada absolutamente.
Pensamos: há um emaranhado de conexões entre as coisas do nosso mundo e as coisas do mundo das outras pessoas. Isso tudo regula como um novelo de lã, quanto maior, mais emaranhado, mais conexões, entretanto, precisamos apenas é de um daqueles meninos para começar a puxar o fio. Vista boa, nunca foi ao oculista, vê aquilo que não vemos: o vácuo entre pessoas, um sem números de fios, a possibilidade da palavra.
Eu poderia estar roubando... mas insisto com a palavra, vou lhes mostrar esse castelo de açúcar, esse cheiro da minha, da nossa infância, de talco no pescoço, de Calcigenol Iradiado, de Emulsão de Scott, de emplastro Sabiá.
Venham, eu sei que soa repetitivo continuar dizendo eu poderia estar roubando, mas é o novelo de lã desenrolando. Olha aí, já tem gente segurando aquela ponta e... outra ponta... outra ponta... outra ponta... outra ponta...