O tratado do peido
A nossa literatura é cheia de frescura. Ela foge dos assuntos normais, banais, corriqueiros. Por exemplo: se você quiser ler algum texto falando sobre o peido, aposto que você só vai encontra-lo como humor ou falando cientificamente. Não vai encontrar um texto “sério” como este (sic!).
Sei que é um assunto “fora de ética”, mas a gente sempre está envolvido com ele. Veja que este nome é tão fora de ética, que até o dicionário do computador não reconhece (ou não aceita) esta palavra, porque colocou um “tracinho” vermelho nela. Já coloquei acento, tirei acento e nada do tracinho sumir. Mas eu não estou nem aí para o tracinho, porque isto deve ser coisa do regionalismo. Então eu vou tentar “nacionalizar” o peido.
O peido é conhecido nacionalmente como PUM (aí, eu escrevi pum e não apareceu nenhum tracinho). Mas pum é coisa de criança, e peido é coisa de adulto. Agora vou escrever esta “palavrinha” no infinitivo, para ver se aparece algum traço vermelho: PEIDAR. É, apareceu o traço. Este dicionário não reconhece nem o verbo peidar: eu peido, tu peidas, ele peida...
Mas o peido é simplesmente uma variante do pum e da bufa. Engraçado é que eu digito PUM e BUFA, e não aparece nenhum tracinho vermelho. Isto deve ser discriminação, por esta palavra ser de origem nordestina (quer dizer: eu acho que é nordestina). Alguém, por este Brasil à fora, sabe o que significa PEIDO?
A diferença entre o peido e o pum, é que o pum quem solta é criança. E o pum pode ser barulhento ou não. Repare que onde tem criança ou cachorro, adulto não solta pum. Quando o pum não “denuncia’ o autor, sempre sobre para a criança ou para o cachorro.
Já o que difere o peido da bufa, é que o peido só faz barulho. Quer dizer: ele denuncia o peidão. Já a bufa é silenciosa. Se ela não for mal cheirosa, ninguém vai ficar sabendo que tem alguém “poluindo o ar”; soltando “gases venenosos”. Às vezes não dá nem para identificar quem foi o “bufão”. Aí, se for num elevador por exemplo, todo mundo é suspeito. Todos têm cara de terrorista. Um fica olhando para o outro, tentando identificar o autor do atentado. Geralmente o autor fica assoviando e olhando para o teto do elevador, com cara de “aliviado”, ou então fica olhando para o assoalho, com medo que alguém o descubra. Porém se tiver alguém “mal vestido” no meio deles, o coitado vai pagar o pato, porque todos os olhares se voltarão para ele.
Quando eu era pequeno, minha mãe sempre falava que quem ria de peido ficava com a cara enrugada. Depois eu vim perceber que não é quem ri de peido não; é quem ri muito, pois fica com o rosto franzido. Se fosse por rir de peido, eu já estaria com cara de maracujá velho, porque eu me acabo na risada. Agora mesmo, só porque eu estou escrevendo sobre o dito cujo, até chorei de tanto dar risadas. Meu neto já entrou várias vezes no quarto, querendo saber do que eu estava rindo. E para ele não se intrometer e querer ficar lendo, eu dizia que era algo que eu estava me lembrando. Quando eu era pequeno, na minha turma tinha um ditado: “O peido é o arroto que não quis sair pela boca”. E não é mesmo?