Talvez você tenha visto ou lido de relance algo sobre a seca que mais uma vez assola o sertão nordestino. Quem sabe tenha sido nada mais do que uma chamada rápida. Nada que possa traduzir tudo que acontece na terrível seca. Mesmo habituados a sofrer fome e sede o sertanejo todo ano acredita que é sina sofrer e que será o último ano.
A paisagem muda. As carcaças de animais vão surgindo à medida que se adentra ao sertão. Aqui uma vaca, acolá um jumento agora iguais são apenas uma pilha de ossos... E pensar o quanto eles já foram importantes na subsistência da família sertaneja... A terra, os pés, a alma tudo rachado pelo sol inclemente. A visão cinzenta das mirradas plantações é simplesmente estarrecedor. Irônicamente os cactos florescem e fazem a alegria da meninada. Nas feiras, o feijão e a farinha tornam-se escassos e atingem altos preços.
Agora me diz como traduzir em palavras tudo isso? Impossível. Necessário se faz viver a tragédia e só assim sentir na pele o drama do sertanejo. O que os faz continuar? Não sei. Quem sabe seja a fé incondicional que os leva a pedir, pedir... Assistir na sua televisão, quem sabe tomando um suco geladinho é fácil e logo irá esquecer. Dói pensar que cisternas e barragens ajudariam muito. Pensar que temos o rio São Francisco tão perto e sua transposição salvaria vidas e vidas. Mas a quem interessaria isso? Por isso segue a passos de tartaruga a tão urgente e esperada transposição. Quantos morrerão até lá?
Enquanto isso em João Pessoa respira-se turismo. Na nudez bronzeada a alienação coletiva. As praias abarrotadas de pessoas eufóricas como se estivessem vivendo seu último dia. Uma aparência de orgia engalana a cidade. Muita cor, muito cheiro, muita luz, muita vida...mas tão perto dos irmaõs do sertão.
Onde está a coerência?