AutoEngano

Não se iluda, por melhor que seja o material do qual é feita, a máscara sempre cai.

Ao pensar em asfixia, nos vêm à mente a falta de ar, dor lancinante no peito, desespero, visão turva, perda dos sentidos etc.

Eu penso em mentira. Explico:

Imaginem o efeito de uma gota de veneno em um litro de água. Compromete toda a água, isso é inevitável, assim como ninguém sustenta uma mentira sem contar outra e mais outra e assim por diante colocando sobre si mesmo um peso enorme, tendo de se policiar para não cometer nenhum deslize e colocar sua mentira toda à perder.

Uma mentira bem contada, quando descoberta nos causa os mesmos sintomas da asfixia. É como se quem nos mentiu colocasse severamente a mão em volta de nosso pescoço causando primeiro a dor pelo desapontamento, em seguida pelo aperto e depois a falta de ar e os demais sintomas sucessivamente.

É no mínimo infantil imaginar que se pode contar uma mentira e mantê-la por muito tempo, a menos que, como eu, a pessoa pra quem se mente seja ingênua demais, ou tenha fé demais nas pessoas que julga conhecer. Uma coisa é certa, nunca se conhece verdadeiramente as pessoas.

O que acontece quando o mentiroso está prestes a ser descoberto é que; como se julga capaz de se manter mentindo vai inventando, uma após outra, mentirinhas menores e usa de subterfúgios para se afastar da “vítima”, acreditando cegamente que não vai ser descoberto. Corta laços que dizia serem eternos com a desculpa esfarrapada de protegê-la, inventa uma viagem repentina, ou seja, de qualquer forma se afasta para evitar o inevitável; mas, sinto muito, não se evita o inevitável.

Mas a pior de todas as mentiras é o autoengano e lidamos com ele a todo tempo, quando, por exemplo, adiantamos o relógio em cinco minutos para não perder a hora, ou aceitamos inconscientemente a mentira de alguém por comodidade, por ser mais fácil lidar com isso do que com a ausência.

Quando essas mãos imaginárias nos libertam e o ar finalmente volta, ou seja, quando a mentira vem à tona é que percebemos o quão idiotas fomos, é como se cada palavra dita, cada olhar trocado, cada momento, cada pensamento perdesse total e completamente o sentido de ter sido, como se aquela pessoa nos tivesse dado um choque de realidade e dito “ Ohh trouxa! Sempre menti e você sempre acreditou!” Dói um pouco sim, mas faz crescer e perceber que aquilo que nós pensávamos que sentíamos também fazia parte do pacote e era pura e simplesmente mentira.

Isabel Cristina Oller
Enviado por Isabel Cristina Oller em 16/01/2014
Código do texto: T4652330
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