RISOS VERDADEIROS. VERDADEIROS?
Li, dias atrás, uma crônica muito interessante. O texto refletia sobre a superficialidade dos relacionamentos virtuais. É inerente ao computador essa certa impessoalidade, o distanciamento entre os operadores das máquinas. Chamou-me a atenção um dos argumentos da cronista. No Facebook só encontramos pessoas felizes, rindo, fazendo festa, em lugares exóticos, na praia, em Bariloche, jantando com amigos, rodeadas de alegria. Concordei no ato. Mas mais tarde ponderei o pensamento.
Seja uma simples foto tirada ao ocaso, no Beto Carrero, um book feito para os 15 anos ou do casal apaixonado. Sim, com certeza, em qualquer perfil que formos entrar, encontraremos apenas fotografias de pessoas rindo, realizando atividades alegres. Não tiro o mérito dos argumentos da escritora, mas percebo que não é só no Orkut (Twitter, Gazzag, e por aí vai) que escolhemos os nossos melhores ângulos. Foi vendo que não só ali as pessoas querem mostrar-se felizes. Os colunistas de jornal, quando expõem suas imagens, ou escolhem uma que transmita seriedade ou que os apresentem rindo, risonhos, sorridentes. Ora, ninguém vai querer parecer aos outros um carrancudo ou com o rosto amarrotado.
Realmente, nunca vi algum quadro na sala, no quarto, nos portarretratos ou na área de trabalho do computador retratando uma cara desanimada, chorosa ou uma discussão do casal. Por acaso você gostaria de ter uma recordação negativa exposta aos quatro ventos?
Queremos andar pela casa lembrando do rosto do nosso filho que viajou e há dois meses não sentimos seu abraço forte. Queremos sentar à sala e olhar para o quadro do nosso casamento. A briga que houve com nossos pais para que aceitassem a esposa na família pode ficar esquecida: nada de reforçar feridas. Ou como diria o Tiago Retore, amigo meu de Santa Maria, lembro das coisas boas que ocorreram comigo. O que foi ruim eu deleto da minha mente.
Sim, cara autora. Os sites de relacionamento ajudam no distanciamento. Eles possibilitam permanecermos distantes das pessoas que queremos e que sem eles ou não conversaríamos mais ou teríamos que suportá-las. Muito mais fácil é dizer oi, como está? Estou bem e você? e desconectar ou simplesmente não se dirigir mais à “amiga”. Pessoalmente teríamos que imaginar algum compromisso inadiável para interromper o desgostoso diálogo.
Fazendo um gancho com essa questão da imagem positiva, recordei-me dum dizer que ouvi também há pouco tempo. Antes tínhamos a era do ser. Buscávamos nos preocupar com o que realmente éramos, tentando não distinguir classes sociais. Depois veio a do ter. Tristemente, quem realmente éramos, perdeu valor. Importava o que tínhamos: dinheiro e poder, de preferência. Dinheiro para fazer quase tudo que fosse possível. E poder para influenciar, sentir-se importante, ser importante. Agora estamos na era do parecer. Nada vale o que somos nem o que temos, e sim o que parecemos ser. Tudo bem se não temos todo aquele dinheiro que queríamos. Ou que não somos tão influentes como desejávamos. Se ao menos parecermos ser tudo isso, já está bom.
Enganamos os outros. E nos enganamos também. Pois o parecer encontra terreno no Orkut, Twitter. Mas não somente ali, porque se não existissem, nada seria diferente. Continuaríamos parecendo aos outros cada vez mais felizes, mais alegres, mais extrovertidos, mais rodeados de amigos. Porque é assim que somos nas reuniões sociais, nas boates, sempre respondendo que está tudo bem. Bom mesmo seria parecermos ser exatamente o que somos. Parecermos ser felizes por sermos, realmente, felizes.